|
Casa cheia no último dia de MDBF. Fotos: Fabiano Knopp |
Em alguns momentos parece uma terra dos sonhos, um
território inimaginável para ser construído tão longe do berço do blues, e
mesmo assim, com tamanha identidade e coerência. Carnaval em novembro, festa da
firma (é o que dizem os colaboradores do evento), uma camaradagem invejável
entre os músicos, sem nenhuma ocorrência policial registrada e um verdadeiro
circo de atividades, atrações, expositores, espargindo nessa composição única
em termos de festivais no país.
Saiba como foi a primeira e a segunda noite do MDBF
Confira uma breve retrospectiva em vídeo dos 3 dias de evento.
Essas são algumas das coisas que me vem à mente
depois da última noite de festival, o maior evento de blues do país. O #MDBF
surgiu como uma extensão das atividades do Mississipi Delta Blues Bar, o Missi,
como se referem carinhosamente os caxienses quando falam de um dos bares mais
conhecidos, isso não apenas na Serra, como também por todos os amantes do blues
nos quatro cantos do país. O festival que acontece no Largo da Estação Férrea
teve sua noite de maior público neste sábado (22).
Casé do blues
Pelo menos pra mim, o sábado começa com Luíza Casé,
prima da apresentadora da Rede Globo, Regina Casé. Ela sobe ao palco feminino acompanhada
de uma super banda formada por nomes como os guitarrista Otávio Rocha (Blues
Etílicos) e Cristiano Crochemore, o baixista Cesar Lago, mais Beto Werther,
ex-Big Allambik, na bateria. Além de cantar muito, Luiza parece ligada na
tomada, hipnotizando a plateia com sua autoconfiança e senso de humor. “Um
pouco de vitamina D não faz mal a ninguém”, diz a cantora usando a mão como
viseira para se proteger do sol do final de tarde, batendo fortemente no
Magnolia Stage. Quanto ao repertório,
versões endiabradas de “My Babe” (Little Walter), “I’d A Rather Go Blind (Etta
James) e “You Belong To Me’ (Robert Cray ). Anotem esse nome: Luiza Casé,
aposto minhas fichas nela. Artista nata, inteligente e talentosíssima.
|
South American Harp Attack no Main Stage. Foto: Fabiano Knopp |
Os gaitistas, Bilbo e o Patrono
No palco principal do festival, tudo começa com
South American Harp Attack, união de quatro gaitistas de peso do continente e
um desfile de clássicos do gênero. No palco, Flávio Guimarães (RJ), Gonzalo
Arraya (Chile), Nico Smojjan (Argentina) e Ale Ravanello (RS). Carta marcada:
uma aula de harmônica para quem gosta do som de gaitas diatônicas (as gaitinhas
de dez orifícios). Aquela altura do entardecer, o MDBF já recebe seu melhor
público dos três dias. Logo mais todo o complexo estaria tomado.
Ainda no Main Stage, na sequência temos a presença
folclórica do músico norte-americano Robert “Bilbo” Walker, que no dia
anterior, fez um show inesquecível debaixo de chuva no Front Porch Stage. Leia
a resenha AQUI
|
Robert Bilbo Walker. Foto: Fabiano Knopp |
“Nunca vi tantas mulheres bonitas num show. E também
nunca vi tantos homens feios”, brinca o músico explicitando sua maneira
folclórica de dizer frases prontas que podem soar engraçadas em qualquer lugar
do planeta. Bilbo faz um decalque do set da sexta-feira, e fico com a impressão
de que num palco maior, parte da sua magia se dissipa. De todo o modo, ele me
ganhou com seu jeito burlesco e caricato, uma síntese do espírito bem humorado
e divertido do blues. O público o adora, tanto que antes do show, tirou uma
série de fotos com vários novos fãs. Claro que no quesito celebridade ele perde
longe para Bob Stroger, Patrono honorário do evento, disparado a figura mais
amada e fotografada do festival.
|
Stoger no All Aboard Stage. Foto (cel): Márcio Grings |
Apresentação do músico na noite de sábado no All
Aboard Stage, estava com lotação máxima no espaço que compreende a antiga
plataforma de embarque/desembarque da Estação Férrea. Se eu fizesse parte da comissão
organizadora do MDBF, iria requisitar a entrega da chave da cidade para
Stroger.
|
O sorriso dourado de Johnny Nicholas. Foto: Fabiano Knopp |
Intimismo com Johnny Nicholas
Já no meu palco favorito, a ‘casinha’, o ex-Asleep
At Wheel e Commander Cody, Johnny Nicholas, que fechou a noite de sexta-feira
no Main Stage, faz um dos shows mais intimistas do MDBF 2014. Chama atenção sua
abordagem sutil em tocar alguns clássicos do gênero, sem muito virtuosismo,
tanto nas teclas quando na harmônica presa ao suporte. No entanto, sua voz soa
elegante e autêntica, um diálogo perfeito com o vernáculo do piano blues. De
chapéu, bigode de crupiê e uma boca que denuncia a presença de dentes encapados
com ouro, o pianista destrincha o manual de como uma apresentação pode soar
despretensiosa, na primeira metade, e simplesmente espetacular na segunda leva
de sons. Assim como o show de Lazy Lester na quinta, outra aula de blues
assistida bem de pertinho, com direito a improvisos, surpreendentes mudanças de
andamento e um constante bate bola entre os músicos.
|
Rockfeller, Nicholas e Fishbone. Foto: Fabiano Knopp |
Destaque para as participações dos guitarristas
Solon Fishbone e Netto Rockfeller, além do gaitista Flávio Guimarães, este
último, que na minha opinião faz sua melhor apresentação nos três dias de
festival. Inesquecíveis
versões do time para “Goin’ Back to New Orleans”, de Doctor John e “Key to the
Highway”, de Charlie Segar.
Na plateia, bem na frente do palco, os guitarristas
Danny Vincent e Larry McCray curtiam o show junto à pequena multidão.
|
Flor Horita. Foto: Fabiano Knopp |
Flor
Voltando ao Magnolia Stage, a jovem cantora e
guitarrista argentina Flor Horita, mostra suas versões para standards como “A
Put Spell On You”, “Baby What Me Want Me To Do” e “Catfish Blues”. Infelizmente
só pude conferir o início da apresentação, e com isso fiquei com a sensação de
que havia muito mais a ser conferido. Motivo da minha partida? Não dava pra
perder o segundo set da apresentação de Johnny Nicholas. Já falei isso em postagens
anteriores, uma das tônicas do MDBF é que diversas atrações são simultâneas, e
com isso, precisamos fazer nossas escolhas.
|
Jerry Portnoy. Foto: Fabiano Knopp |
A elegância de Portnoy
Próxima atração: Jerry Portnoy no Main Stage.
Expoente da lendária cena blues de Chicago, Portnoy é uma presença viva de uma
das escolas mais tradicionais da música norte-americana. Olhar para o gaitista,
a forma cuidadosa como passa o cabo do microfone pelo ombro, a postura
imponente (apesar da baixa estatura), as bochechas infladas pelos movimentos de
sua boca no instrumento, a voz grave, os timbres exatos daquilo que ouvimos dos
velhos LPs de blues, enfim, tudo soa fidedigno. Como um guardião do legado mais
precioso da música que o tornou um dos profissionais respeitadíssimos e
requintados da harmônica, Portnoy homenageia nomes como Jimmy Reed, Big Walter
Horton, Sonny Boy Williamson, entre outros.
Impagável vê-lo em ação utilizando todos os
traquejos que muitas gaitistas tentam invariavelmente imitar, mas raramente
conseguem. E, além disso, Jerry Portnoy
leva o troféu de músico mais elegante do festival. No show do MDBF, o gaitista
esteve acompanhado do guitarrista Rick King Russell, músico que já foi sideman
de nomes como David “Honey Boy” Edwards, John Lee Hooker, Eddie Clearwater, entre
outros.
|
Miss Marshall bebendo todas no palco. Foto: Fabiano Knopp |
Blues rock com Bex
Saio correndo do palco principal, pois Bex Marshall
está prestes a começar os trabalhos no Front Porch Stage. Se a britânica fez
uma apresentação morna na noite anterior no Magnolia Stage, a única mulher a
pisar como atração principal da ‘casinha’ fez o show mais rock and roll da
última noite. O blues estava lá, nas estrelinhas, afinal, essa é uma das
características do som da cantora: – misturar tudo. De qualquer forma,
potencializando ainda mais esse ingrediente, Bex parecia endiabrada no seu
figurino roqueiro esfarrapado.
|
Bex. Foto: Fabiano Knopp |
Quando logo no início do set a cantora revisita
Janis Joplin em “Piece of My Heart”, a plateia que tomou de assalto o centro,
imediações e laterais do palco, simplesmente explode como num concerto de rock.
Veja no LINK a foto postada no perfil oficial da
artista no FB.
De pé descalços, com os peitos praticamente saltando
da blusa, visivelmente sintonizada ao espírito de festa instaurado pela sua
presença, Bex toca a faixa título de seu álbum de estreia de 2007 (Kitchen
Table), e prioriza canções do seu último CD, “The House of Mercy”, lançado em
2013.
|
Larry McCray. Foto: Fabiano Knopp |
McCray. Adeus MDBF 2014
Depois de receber doses cavalares de energia, mais
gás no Main Stage que recebe Larry McCray, guitarrista norte-americano escalado
para dar números finais ao festival. Foi sua terceira apresentação. Vi ele como
sideman de Lazy Lester (na quinta), no Front Porch Stage (na sexta) e agora no
palco principal, tenho a sensação de ter visto três apresentações completamente
diferentes. Nesse último show, um recorte dos seus quase vinte e cinco anos de
carreira discográfica, temas como ” Run”, “Never Run So Bad” e a balada arrasa
quarteirão “Don’t Need No Woman”, além de canções sempre presentes em seu
setlist, como “Born To Play The Blues”.
Entre as participações, destaque para a canja do
gaitista Lazy Lester. O encerramento fica a cargo de “Soulshine” releitura do
Allman Brothers Band, composição de Warren Haynes que parece ter sido composta
sob medida para McCray. 2015 tem mais. Parabéns a Toyo, idealizador do
festival, e nossas congratulações a toda comissão organizadora.
Veja mais fotos de Fabiano Knopp.
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
|
Foto: Fabiano Knopp |
Nenhum comentário:
Postar um comentário