Foto de cartão postal POP no MDBF. Foto: Porthus Jr |
Blues, chuva e momentos inesquecíveis. Foto: Porthus Jr |
A noite começa pra mim com Los Mind lagunas. O trio mexicano
tocou boa parte do show debaixo de chuva, nada que tirasse a energia do
baixista e vocalista Alfonso Robledo que utiliza o senso de humor para
esquentar a primeira apresentação no palco principal. “Nós somos fracos, mas só
temos convidados de peso hoje”. Entre eles, Flávio Guimarães (Blues Etílicos),
gaitista carioca que acompanhou o trio mexicano em uma meia dúzia de temas. Destaque
para a releitura em espanhol de “T-Bone Shuffle”, de T-Bone Walker. Outro
convidado, esse vindo direto de BH, Gustavo Andrade, promoveu o “cruzamento do
pão de queijo com a pimenta”, como disse Robledo, antes do guitarrista mineiro
cantar e tocar canções como “Man of Many Words”, de Buddy Guy e “Little By
Little”, de B.B. King.
Também pude conferir um workshop de Álamo leal, músico
carioca que entre uma canção e outra, destrincava suas histórias do tempo em
que morou na Inglaterra.
Chegando ao meu palco preferido, o Front Porch Stage,
ou ‘casinha’, como é carinhosamente chamada por todos, eis que vejo a figuraça
Robert ‘Bilbo’ Walker afinando sua guitarra. Bilbo nasceu no Mississipi, passou
por Chicago, morou na Califórnia e atualmente vive em Clarksdale, no
Mississippi. O ex-plantador de melancias é disparado um dos músicos mais
divertidos que já vi tocar.
Roberto “Bilbo” Jr. Foto: Porthus Jr |
Tanto pela forma cênica de comportamento no palco,
quanto pelo repertório. O lance é que esse norte-americano de 77 anos, inevitavelmente
rememora a lembrança de Chuck Berry. As dancinhas, o sorriso engraçado que
denuncia a falta de dois ou três dentes na boca, o terno elegantemente
desbotado, o cabelo encaracolado que parece uma peruca, a guitarra Fender
assinada com letra borrada, fazem desse bluesman caricato, uma espécie de
humorista que poderia virar personagem dos Simpsons.
Pra completar o quadro, fico grudado ao palco me protegendo
da chuva – que depois de uma breve trégua, resolve novamente desabar sobre
nossas cabeças. Mesmo assim, o público não arredava pé. Até que, para surpresa
de muitos, Bilbo Resolve passear com sua guitarra pela frente do palco. E
assim, sem medo de ser eletrocutado, o guitarrista comandou as ações em meio o
quintal encharcado do Front Porch Stage. Entre dois ou três temas do repertório
de Chuck Berry e standards do gênero, ao lado dos Jerry Roll Boys, ele também
lasca uma versão esquizofrênica de “Got My Mojo Working”, além de abrir a caixa
de ferramentas e apresentar músicas de seus três álbuns. Temas como “Sold my Soul”, “Why I sing the
Blues”, “Something on Your Mind” e “Shake for Me”, denotam uma identidade
musical com forte influência berryana. Segundo um amigo guitarrista,
Bilbo tocou todo o show com a sexta corda desafinada. Maravilha! Por isso eu
adoro o blues.
Ainda sob o impacto da chapoletada de diversão, e agora sem
chuva, caminho em direção ao Main Stage e percebo que o show do projeto Guit4ar
For Blues, time formado pelos guitarristas Danny Vincent (Argentina), Netto
Rockfeller (SP), Solon Fishbone (RS) e Fernando Noronha (RS), já está fumegando
a mil. No intervalo entre uma música e outra, Noronha dedica uma canção ao
musico porto-alegrense Luciano Leindecker, que faleceu nesta sexta-feira na
capital. Vaya com Diós.
Bex Marshall curtindo o festival. Foto: João Rafael Bortoluzzi |
Dá pra perceber que o público em volta do palco principal ganhou mais cabeças que a noite anterior. Depois de conferir a versão do quarteto guitarrístico para “I Just Want To Make Love To You”, parto para o Magnolia Stage para dar um bico no show de Bex Marshall. A cantora britânica, que já estava na cidade desde o dia anterior, postou várias fotos nas redes sociais e pôde ser vista circulando livremente pelo MDBF. Fiquei próximo dela na apresentação de Bob Stroger, e deu pra perceber que Bex curtia a noite como qualquer um de nós por ali. Essa é uma das características dessa turma ligada ao blues: muitos deles não tem frescura nenhuma.
Lurrie Bell. Foto: Porthus Jr |
Ver ao vivo um cara como Lurrie Bell não deixa de ser algo
inacreditável. Tenho há anos um LP que o guitarrista gravou ao lado ao lado do
seu pai, “Song of Gun” (1984), e nunca imaginei que o veria bem de perto. Filho
do lendário gaitista Carey Bell, que foi um dos sidemen de Muddy Waters, Lurrie
já prestou seus serviços para gigantes do gênero como Willie Dixon e Koko
Taylor. Chicago blues na veia.
Voltando ao Front Porch Stage, Larry McCray, mostra por que
é um dos nomes mais respeitados do nosso tempo. O músico é um devotado amante
da famosa ‘tríade King’ do blues: Albert, Freddie e B.B. King, e dá pra dizer
sem medo que esse legado permanece vivo no som do músico nascido no Arkansas.
Além de arrebentar com sua Gibson, Larry não é adepto de obviedades no seu
setlist. Poucos standards e muitas canções de seus oito álbuns. Antes da
apresentação, tive meu momento ‘fã’ do MDBF.
Guitar man, Larry McCray. Foto: Porthus Jr |
Encerrarrando minha noite no festival, Jai Malano brilha no
palco Magnolia. A cantora texana se apresentou ao lado da Igor Prado Band. Como
algumas de suas influências, na revista do festival são citados os nomes de
Etta James, Lavern Baker e Ruth Brown. Eu diria mais: além de sua voz nos
remeter a várias divas da música negra, a performance, a voz e a maneira como
ela parece se divertir no palco nos contagia. Acho que Jai tem todas as
credenciais para se tornar uma das bolas da vez da música negra internacional.
Impossível não falar da banda que acompanhou a cantora no Brasil, a Igor Prado
Band, talentosa rapaziada de São Caetano do Sul, que além de dar todo o suporte
artístico, colocou todo o público pra dançar durante uma das apresentações mais
empolgantes do festival.
Não deu tempo de ver Johnny Nicholas. Sem erro nos vemos
neste sábado, na última noite de festival. Hora de rever Bex Marshall, Robert
‘Bilbo’ Walker e Larry McCray, além de shows inéditos de Jerry Portnoy, Flor
Horita, entre mais bandas e artistas. Nos vemos por lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário