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sábado, 22 de novembro de 2014

MISSISSIPPI DELTA BLUES FESTIVAL 2014 - 2ª NOITE, CAXIAS DO SUL, 21 DE NOVEMBRO

Foto de cartão postal POP no MDBF. Foto: Porthus Jr
A segunda noite da sétima edição do Mississippi Delta Blues Festival, que novamente é realizado no Largo da Estação Férrea, em Caxias do Sul (RS), teve vários componentes para torná-la um capítulo inesquecível na memória do publico que prestigiou outra série de apresentações. Um deles foi o mal tempo, que mesmo assim não afastou o público. Além dos shows, várias atividades paralelas movimentam o amplo espaço que toma conta do antigo complexo ferroviário local. Workshops, tour gastronômico musical, pocket shows solidários, leilão silencioso, várias opções de alimentação, e muitos eventos que nos fazem encher os olhos de satisfação.

Saiba como foi a primeira e a terceira noite do MDBF 

Blues, chuva e momentos inesquecíveis. Foto: Porthus Jr
Se na quinta-feira eu fiquei frustrado em perder algumas apresentações, essa sensação novamente me acompanhou na sexta. Que fique claro: é impossível ver tudo ao mesmo tempo. Comecemos pelo o que eu não vi. Fran Duarte abriu os trabalhos no Magnolia Stage, palco feminino do MDBF. Só ouvi de relance alguma coisa no All Aboard Stage, palco localizado na antiga plataforma de embarque e desembarque da Estação. No segundo dia tocaram por lá três bandas de Caxias. Guitarras, harmônicas e clássicos compondo a atmosfera. E a chuva que apenas envernizou de leve as ações no dia anterior, resolve se manifestar com toda força e requintes cenográficos (como vemos em algumas imagens desse post). Choveu muito durante várias das apresentações, o que de certa forma até contribuiu para que alguns recortes dos shows tivessem momentos que ficarão guardados na memória.

o Los Mind Lagunas com Flávio Guimarães. Foto (cel): Márcio Grings
México blues

A noite começa pra mim com Los Mind lagunas. O trio mexicano tocou boa parte do show debaixo de chuva, nada que tirasse a energia do baixista e vocalista Alfonso Robledo que utiliza o senso de humor para esquentar a primeira apresentação no palco principal. “Nós somos fracos, mas só temos convidados de peso hoje”. Entre eles, Flávio Guimarães (Blues Etílicos), gaitista carioca que acompanhou o trio mexicano em uma meia dúzia de temas. Destaque para a releitura em espanhol de “T-Bone Shuffle”, de T-Bone Walker. Outro convidado, esse vindo direto de BH, Gustavo Andrade, promoveu o “cruzamento do pão de queijo com a pimenta”, como disse Robledo, antes do guitarrista mineiro cantar e tocar canções como “Man of Many Words”, de Buddy Guy e “Little By Little”, de B.B. King.

Álamo Leal. Foto (cel): Márcio Grings
Diversão no Front Porch

Também pude conferir um workshop de Álamo leal, músico carioca que entre uma canção e outra, destrincava suas histórias do tempo em que morou na Inglaterra. 

Chegando ao meu palco preferido, o Front Porch Stage, ou ‘casinha’, como é carinhosamente chamada por todos, eis que vejo a figuraça Robert ‘Bilbo’ Walker afinando sua guitarra. Bilbo nasceu no Mississipi, passou por Chicago, morou na Califórnia e atualmente vive em Clarksdale, no Mississippi. O ex-plantador de melancias é disparado um dos músicos mais divertidos que já vi tocar. 


Roberto “Bilbo” Jr. Foto: Porthus Jr
Tanto pela forma cênica de comportamento no palco, quanto pelo repertório. O lance é que esse norte-americano de 77 anos, inevitavelmente rememora a lembrança de Chuck Berry. As dancinhas, o sorriso engraçado que denuncia a falta de dois ou três dentes na boca, o terno elegantemente desbotado, o cabelo encaracolado que parece uma peruca, a guitarra Fender assinada com letra borrada, fazem desse bluesman caricato, uma espécie de humorista que poderia virar personagem dos Simpsons.

Pra completar o quadro, fico grudado ao palco me protegendo da chuva – que depois de uma breve trégua, resolve novamente desabar sobre nossas cabeças. Mesmo assim, o público não arredava pé. Até que, para surpresa de muitos, Bilbo Resolve passear com sua guitarra pela frente do palco. E assim, sem medo de ser eletrocutado, o guitarrista comandou as ações em meio o quintal encharcado do Front Porch Stage. Entre dois ou três temas do repertório de Chuck Berry e standards do gênero, ao lado dos Jerry Roll Boys, ele também lasca uma versão esquizofrênica de “Got My Mojo Working”, além de abrir a caixa de ferramentas e apresentar músicas de seus três álbuns. Temas como “Sold my Soul”, “Why I sing the Blues”, “Something on Your Mind” e “Shake for Me”, denotam uma identidade musical com forte influência berryana. Segundo um amigo guitarrista, Bilbo tocou todo o show com a sexta corda desafinada. Maravilha! Por isso eu adoro o blues.

Guit4ar For Blues. Foto: João Rafael Bortoluzzi
Guitarristas e Bex

Ainda sob o impacto da chapoletada de diversão, e agora sem chuva, caminho em direção ao Main Stage e percebo que o show do projeto Guit4ar For Blues, time formado pelos guitarristas Danny Vincent (Argentina), Netto Rockfeller (SP), Solon Fishbone (RS) e Fernando Noronha (RS), já está fumegando a mil. No intervalo entre uma música e outra, Noronha dedica uma canção ao musico porto-alegrense Luciano Leindecker, que faleceu nesta sexta-feira na capital. Vaya com Diós.

Bex Marshall curtindo o festival. Foto: João Rafael Bortoluzzi






















































Dá pra perceber que o público em volta do palco principal ganhou mais cabeças que a noite anterior. Depois de conferir a versão do quarteto guitarrístico para “I Just Want To Make Love To You”, parto para o Magnolia Stage para dar um bico no show de Bex Marshall. A cantora britânica, que já estava na cidade desde o dia anterior, postou várias fotos nas redes sociais e pôde ser vista circulando livremente pelo MDBF. Fiquei próximo dela na apresentação de Bob Stroger, e deu pra perceber que Bex curtia a noite como qualquer um de nós por ali. Essa é uma das características dessa turma ligada ao blues: muitos deles não tem frescura nenhuma.

Lurrie Bell. Foto: Porthus Jr
Quanto ao show, Bex tocou vários sons dos seus dois álbuns, Kitchen Table” e o elogiado “The House of Mercy” (2012), além de deixar bem claro que não há problema algum em explicitar uma de suas principais referências: baita releitura de “Piece of My Heart”, um dos grandes sucessos de Janis Joplin. A ganhadora do prêmio de Melhor Cantora do Britsch Award, não tem medo de misturar rock, ragtime e blues. Confesso que o show não me impactou da maneira que esperava. De todo modo, Bex toca neste sábado na casinha, única mulher que passará pelo palco mais querido do MDBF.

Larry McCray. Foto: Porthus Jr
Chicago blues e McCray

Ver ao vivo um cara como Lurrie Bell não deixa de ser algo inacreditável. Tenho há anos um LP que o guitarrista gravou ao lado ao lado do seu pai, “Song of Gun” (1984), e nunca imaginei que o veria bem de perto. Filho do lendário gaitista Carey Bell, que foi um dos sidemen de Muddy Waters, Lurrie já prestou seus serviços para gigantes do gênero como Willie Dixon e Koko Taylor. Chicago blues na veia.

Voltando ao Front Porch Stage, Larry McCray, mostra por que é um dos nomes mais respeitados do nosso tempo. O músico é um devotado amante da famosa ‘tríade King’ do blues: Albert, Freddie e B.B. King, e dá pra dizer sem medo que esse legado permanece vivo no som do músico nascido no Arkansas. Além de arrebentar com sua Gibson, Larry não é adepto de obviedades no seu setlist. Poucos standards e muitas canções de seus oito álbuns. Antes da apresentação, tive meu momento ‘fã’ do MDBF.

Guitar man, Larry McCray. Foto: Porthus Jr
O guitarrista estava passeando de boa com seu baixista, quando ao vê-lo, pergunto se poderia tirar uma foto com ele. Ele abriu um sorriso. Falei sobre a noite anterior quando o vi tocando ao lado de Lazy Lester. Então disse que foi divertido vê-lo duelando com Lester. Rindo, Larry afirmou que foi dureza, afinal não tocava com Lester há mais de 10 anos. Pra completar o pacote, compro um CD e pego o autógrafo do homem.

Jai Malano. Foto: Porthus Jr
Um dos melhores shows

Encerrarrando minha noite no festival, Jai Malano brilha no palco Magnolia. A cantora texana se apresentou ao lado da Igor Prado Band. Como algumas de suas influências, na revista do festival são citados os nomes de Etta James, Lavern Baker e Ruth Brown. Eu diria mais: além de sua voz nos remeter a várias divas da música negra, a performance, a voz e a maneira como ela parece se divertir no palco nos contagia. Acho que Jai tem todas as credenciais para se tornar uma das bolas da vez da música negra internacional. Impossível não falar da banda que acompanhou a cantora no Brasil, a Igor Prado Band, talentosa rapaziada de São Caetano do Sul, que além de dar todo o suporte artístico, colocou todo o público pra dançar durante uma das apresentações mais empolgantes do festival.

Igor Prado e Jai Malano. Foto: Porthus Jr


Não deu tempo de ver Johnny Nicholas. Sem erro nos vemos neste sábado, na última noite de festival. Hora de rever Bex Marshall, Robert ‘Bilbo’ Walker e Larry McCray, além de shows inéditos de Jerry Portnoy, Flor Horita, entre mais bandas e artistas. Nos vemos por lá.

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