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segunda-feira, 19 de maio de 2025

THE PRETENDERS - PORTO ALEGRE, 18 DE MAIO DE 2025

| Foto Laura Aldana |
| Por Márcio Grings Fotos Laura Aldana |

Final de domingo, uma chuva fina cai sobre Porto Alegre. A pé, cruzo a Avenida Osvaldo Aranha em direção ao Araújo Vianna, no caminho, um sujeito em situação de rua, deitado em frente a uma loja, levanta a cabeça do colchão e me pergunta qual é o show da noite. Ao ouvir a resposta, ele me grita enquanto atravesso a avenida:  

— Pede pra Chrissie tocar Don't Get Me Wrong, diz o sujeito tomado por uma euforia momentânea. Nunca menospreze o poder de um hit, penso. 

Foto: Laura Aldana
Quase uma década após a primeira vinda ao Rio Grande do Sul — quando fez o show de abertura para Phil Collins no Beira-Rio em 2018 — leia review AQUI — os Pretenders, banda criada por Chrissie Hynde, pisa pela quarta vez em solo brasileiro. Assim como naquele ano, ainda me sinto motivado em vê-los ao vivo. Afinal, a líder deles é um dos peixes grandes do rock. O atual status comprova que o grupo ainda está no jogo. A fila andou e o tempo foi generoso para os Pretenders. Na estrada desde 1978, Hynde acaba de celebrar 45 anos do autointitulado LP de estreia, lançado em janeiro de 1980. A atual gira, a Latin America Tour, já passou pela Cidade do México, Santiago, Montevidéu e Buenos Aires.  

Foto: Laura Aldana

Atualmente, como headliner, os Pretenders se apresentam em casas de espetáculo e teatros menores, um território onde Chrissie se sente à vontade: “Pessoalmente, não consigo curtir um show de três horas. Prefiro ver a banda de perto ao invés de assisti-la pelo telão. E da minha posição, como artista, gosto da possibilidade de poder enchergar os espectadores com meus próprios olhos”, disse em entrevista. “Poderíamos estar tocando em lugares maiores, ganhando mais dinheiro e conquistando mais prestígio. Contudo, não damos a mínima para essas coisas”, complementa. Quem a acompanha ao longo dos anos sabe, Chrissie não mede as palavras e,  além de seu ativismo em prol dos direitos dos animais e questões ambientais, a vocalista ainda vê no rock e no seu métier um instrumento de revolução ao modelo do Século XX. 

Foto: Laura Aldana

O fato é que os Pretenders estão na estrada com um dos melhores shows de rock da atualidade. O setlist mescla canções de nove dos doze álbuns lançados em quatro décadas e meia de atividade, e ainda promove um avant-première de “Kick ‘Em Where It Hurts – Live”, disco ao vivo que será lançado em junho. A formação que está no novo registro é a mesma que vem ao país. Além de Chrissie Hynde (voz, harmônica e guitarra), o grupo apresenta armas na Latin America Tour com James Walbourne (guitarrista e grande parceiro de Hynde nas composições), Dave Page (baixo) e Rob Walbourne (bateria). O trabalho de estúdio mais recente, "Relentless" (2023), é uma confirmação de que o grupo vive essa ótima fase, assim como os anteriores, "Hate For Sale" (2020) E "Alone" (2016).

Foto: Laura Aldana
O SHOW

Araújo Vianna, 3 mil pessoas saíram de casa num domingo de tempo instável para assistir a atual encarnação do grupo. 20h15, banda no palco, aos 73 anos, Chrissie Hynde mantém sua silhueta esguia, sombra nos olhos e o cabelo vermelho desgrenhado com estilo, os penduricalhos, calça jeans com botas de couro que sobem acima do joelho. A capa de "Freak Out" (1966) de Frank Zappa & The Mothers estampa a camiseta da cantora, um aceno à transgressão de um dos grandes guitarristas da história. A mistura de rock clássico, pós-punk, new wave e pop é a cartilha do som dos Pretenders, porém, nos últimos álbuns, há sínteses e subtrações dessa fórmula. A exemplo, nas canções recentes, encontramos ótimas letras, menos doçura e mais agressividade musical.  

Foto: Laura Aldana

Desse modo, inicialmente destituído de uma intenção pop, o show abre com uma das novas, "HATE FOR SALE", que diz: "Dinheiro no banco e cocaína no bolso/ Pornô o dia todo (...) Implante dentário/ Oh, ele vai à academia/ Peito depilado", é um retrato crítico, punk e turbulento do macho idiota propagado nas redes e nos dias de hoje. “Estou descartando um repertório só de hits. Eu nunca quis ir para essa direção, mas precisava me manter viva e pagar as contas. Se alguém quiser me assistir no futuro, vai ser punk rock/sem sucessos”, declarou Chrissie. O show tem esse contraste: um vai e vem entre o pop e o anti-pop. "TUFF ACCOUNTANT DADDY", mais uma do último álbum, mantém a corda esticada. James Walbourne arrepia no solo e mostra porque é o melhor guitarrista que já passou pelos Pretenders — "Queria cortar as mãos dele", disse Jeff Beck a Chrissie Hynde, ao visitá-la no back stage de uma apresentação do grupo em 2017. Hoje, Walbourne é parte do organismo vivo que o grupo se tornou. 

Foto: Laura Aldana

"KID" é a primeira que nos leva direto ao cânone do pop rock dos anos 1980. Ela ainda é uma das minhas cantoras de rock favoritas, dona de um contralto flutuante e sempre expressivo. A maneira como Chrissie ondula cada linha vocal – aquele trêmulo característico – é sublime. O timbre é inconfundível, e não há nenhuma subtração nessa entrega, apesar da líder da banda já ter passado dos 70 anos. "MY CITY OF GONE", de "Learning to Cry" (1984) foge da risca Greatest Hits. É um aceno a cidade natal de Hynde, como ela anuncia antes de tocá-la, conectando sua história com qualquer pessoa que tenha deixado para trás sua terra, emprestando aquela sensação de nostalgia e perda.

Foto: Laura Aldana

Antes de tocar "THE BUZZ", Chrissie avisa ao público que essa missiva tem endereço: é uma homenagem a Johnny Thunders, lendário guitarrista do New York Dolls. É também uma das melhores músicas do rock and roll feitas neste século, detentora das credenciais que forjaram o grupo. E mesmo que James Walbourne não tivesse nem nascido quando os Pretenders surgiram (ele veio ao mundo no que o primeiro LP foi lançado), sua guitarra tem o som dos Pretenders.

Dentro do preset do show, há passeios por vários estilos — "PRIVATE LIFE" (reggae), "BOOTS OF CHINESE PLASTIC" (psychobilly) e o rock dos anos 1950 repaginado com tintas oitentistas impregna "THUMBELINA". Não à toa, a capa do próximo álbum recicla uma iconografia clássica de Elvis (que o Clash chupou em London Calling), assim como Chrissie aparece em fotos de divulgação com uma imagem do Rei do Rock na sua camiseta. "TALK OF THE TOWN" é puro saudosismo, mas soa novinha em folha nessa noite no Araújo.  

Foto: Laura Aldana
"BACK ON A CHAIN GANG" é uma canção assinatura que até os hereges conhecem e se juntam ao coro. Os malditos celulares se elevam e a massa faz seus registros para as redes sociais. O bloco punk retorna com "DON'T CUT YOUR HAIR" e a ótima "JUNK WALK", retrato da atual cruzada ruidosa do grupo. Além disso, letras cheias de ironia como "LET THE SUN COMES IN" são a marca da safra mais recente (e bem aceita prlo público), com James destrinchando sua guitarra nas bases e solos. E Chrissie não se furta de deixar o seu menino dos olhos brilhar. Bem, se alguém veio até aqui para os hits (e o Pretenders tem alguns) "DON'T GET ME WRONG" satisfaz essa parcela do público no Araújo Vianna (e o meu camarada homeless a ouve na sua cabeça), pois temos aqui uma das músicas mais conhecidas do grupo no Brasil. Lá se erguem os celulares. 

Foto: Laura Aldana

"TIME THE AVENGER" bota fogo no parquinho e a releitura de "FOREVER YOUNG" empresta uma beleza magnânima e quase introspectiva. Se você não viu Chrissie cantando “I Shall Be Released” em 1994 no Bob Fest, corra até o YouTube, ela canta Dylan com propriedade e pode até errar a letra (a cantora gravou um álbum apenas com canções do bardo). Se "NIGHT IN MY VEINS" é um som moldado para as FMs dos anos 1990, "MIDDLE OF THE ROAD" (com direito ao coro atento do público) é uma pedra de quebrar vidraça, com Chrissie levantando o público com o solo de harmônica empapado de distorção e atitude, mote final para que a banda deixe o palco ovacionada pela plateia.  

O bis começa com dois clássicos, "MESSAGE OF LOVE" e a sempre bem-vinda releitura dos Kinks "STOP YOUR SOBBING", assim como “TATTOED LOVE BOYS", um antigo flerte com o pós-punk. No segundo bis, "I'LL STAND BY YOU", com Chrissie sem a guitarra e cantando como crooner, emociona e mostra o poder de uma canção pop que ultrapassou o tempo e segue batendo forte. Nem precisaríamos ouvir "PRECIOUS" e "MYSTERY ACHIEVEMENT", um último sopro de resistência ao lado mais indomado do quarteto no palco, mas esse final passa um recado: os Pretenders começam e terminam seu show ondulando na turbulência do rock, sempre com autenticidade e rebeldia. A cola de tudo está no pop e na força do hit, uma fórmula invocada pelos grandes. Afinal, nem todo mundo tem um sucesso pra chamar de seu. A apresentação no Araújo Vianna foi a mais longa até agora na Latin America Tour, com 24 músicas, prova de que esse encontro foi especial. 

Na saída, de volta pra casa, reencontro o sujeito em situação de rua e digo que os Pretenders tocaram “Don’t Get Me Wrong”. O pobre homem, escorado na parede e fumando um cigarro imaginário, abre um sorriso gigante. Nunca subestime o poder de um hit... Da Capital gaúcha  o grupo segue para Curitiba (20), Brasília (22) e São Paulo (24). Cobertura: Grings Tours | Quando o Som Bate no Peito. Review: Márcio Grings. Fotos: Laura Aldana. Agradecimento: Paulo Finatto (Opinião Produtora), credenciamento, suporte e assessoria.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

THE PRETENDERS - PORTO ALEGRE, 27 DE FEVEREIRO DE 2018

Fotos: Marcos Nagelstein/Agência Preview
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Texto Márcio Grings Fotos Marcos Nagelstein  

Beira-Rio, Porto Alegre - terça-feira, 27 de Fevereiro de 2018. Eu não poderia estar em outro lugar. Afinal eu tenho um inadiável encontro marcado com Miss Chrissie Hynde. Aos 66 anos, minha musa ainda personifica com orgulho o emblema de anti heroína do gênero, uma sobrevivente do autêntico espírito revolucionário do rock. Sim, estamos falando de insurgência contra o establishment, porque além de estar frente aos holofotes, muitas vezes um artista também pode ser um porta-voz da contracultura ou ativista de alguma bandeira. A ex-garçonete de um fast food que há décadas é ferrenha vegetariana/defensora dos direitos dos animais, ainda segura a guitarra como um escudo. Ela que desistiu de morar nos Estados Unidos, montou uma banda de rock na Inglaterra e é praticamente uma cidadã do mundo -“É engraçado estar de volta [ao Brasil] Eu morei na avenida São Luis. Sou quase uma paulistana”, brincou em frente ao microfone poucos dias antes no show em São Paulo, relembrando da época em que gastou os seus sapatos pelas ruas e avenidas da Capital paulista. Assim, deixa claro que se sente a vontade no Brasil, e também em qualquer urbe do planeta...

Foto: Marcos Nagelstein
Às 19h45, hora prevista para o início do espetáculo o mundo desaba sobre Porto Alegre. Um chuva torrencial que nos faz lembrar o histórico concerto dos Rolling Stones em Março de 2016.  Quando o céu oferecem uma trégua, após o staff da banda secar e ajustar os últimos detalhes, às 20h10, Chrissie Hynde e seus comandados finalmente surgem no tablado. Chrissie veste um blazer rosa ajustado ao corpo esguio, calças pretas coladas, olhos delineados e cabelo loiro. Guardadas as devidas proporções, cenicamente sempre a vi consoante a pináculos como Dylan e Richards, um híbrido feminino/masculino, pura androgenia sexy e plural. 

Foto: Marcos Nagelstein
O show começa com "Alone", uma música que lembra os desavisados que o negócio do Pretenders é se portar como uma autêntica banda de rock. E a canção que dá nome ao novo álbum lançado em 2016 é também um certificado da visão irreverente de Hynde sobre o mundo. "Sim, eu gosto de estar sozinha / O que você vai fazer sobre isso?" Depois de três ou quatro casamentos ela dá o recado, gostar de si mesma já lhe basta! De todo o modo, o lado agridoce no repertório bate cartão em "Talk of the Town", tema em que o DNA melódico do grupo imprime sua marca com o característico vibrato de Chrissie Hynde. Sua voz está mais linda do que nunca. E o que dizer de "Back on the Chain Gang"? Nada pode ser mais Pretenders. E o coro do Beira-Rio deixa bem claro essa insígnia de um sucesso permanente. O termo chain gang (algo como "bando acorrentado") é uma expressão idiomática que já foi usada para denominar a classe trabalhadora; "Chain Gang" também faz alusão a a clássica imagem de presidiários acorrentados a quebrar pedras. Sim, somos todos prisioneiros dos Enganadores...

Foto: Marcos Negelstein
No mesmo instante em que a chuva cessa completamente, e depois de um clássico absoluto, o reggae "Private Life" soa como uma ducha de água fria. Ok, ""Brass in Pocket"" nos leva de volta ao ápice criativo do grupo. "Hym to Her" só precisaria da voz de Chrissie Hynde para deixar tudo nos eixos. A versão que ouvimos no Beira-Rio começa apenas com o acompanhamento do tecladista Carwyn Ellis (ele parece um sósia de Brian Jones [Rolling Stones], ainda mais quando toca maracas), para logo depois ganhar contorno adocicados do guitarrista James Walbourne. "Stop Your Sobbing" é uma gema extraída do território do Kinks que parece ter sido feita por encomenda para o Pretenders, tanto que virou seu primeiro single em 1979. Soa viva, acesa e com um frescor inacreditável. Sinto falta e canções como essa no rock mundial de hoje.

Confira "Back on the Chain Gang".


Chrissie interage o tempo todo com o público, esbanja bom humor e simpatia, perguntando aos fãs mais próximos o que eles gostariam de ouvir. A impressão que tenho é que ela precisa do contato próximo com a audiência, e essa proximidade a estimula. Se "Message of Love" nos leva de volta ao pós-punk do início dos anos 1980, "I'll Stand By You" fez parte da famigerada trilha da novela da Rede Globo "A Viagem" e com isso somos premiados por mais um daqueles coros em uníssono que deixa o público orgulhoso de poder cantar mais uma música do repertório. E a viagem continua...

Foto: Marcos Negelstein
"Forever Young" é uma das mais belas e messiânicas canções de Bob Dylan. Quando assisti pela TV em 1992 Chrissie cantando "I Shall Be Relased" (outro número do mesmo naipe) no Especial dos 30 anos de carreira de Bob Dylan no Madison Square Garden concluí de 'prima' que sua voz é perfeita pra cantar certas canções do bardo americano. E essa mágica acontece também na versão de "Forever Young", ainda mais com o reforço da banda no refrão, uma pequena orquestra de vozes.

"Down the Wrong Way" faz parte de "Stockholm", bom álbum solo de Chrissie Hynde lançado em 2014. Na verdade, tudo soa como Pretenders, já que para muitos o grupo poderia se chamar Chrissie Hynde and The Pretenders. Atento de que da formação original, além de Chrissie, temos apenas o baterista Martin Chambers. Vale ainda lembrar que James Honeyman-Scott (guitarra) e Pete Farndon (baixo) morreram respetivamente em 1982 e 1983. Os dois foram vítimas de overdose de drogas e também dividiram os lençóis com Chrissie. "Don't Get Me Wrong" certamente figura no hall das canções mais conhecidas da noite. Também fez parte de filmes, comerciais e diabo a quatro. O que importa? Ela continua sendo um grande pop/rock pra se ouvir batendo forte no peito, bem em frente ao palco aonde estou.  

Foto: Marcos Nagelstein
"Mystery Achievement" é uma amostra do poder de fogo dessa encarnação atual do Pretenders. Com seu cabelo laqueado, Walbourne abre a caixa de ferramentas e nos dá amostras do seu talento como solista. O baixinho Nick Wilkinson segura uma linha hipnótica no baixo. Goteiras pingam sobre a bateria de Chambers. Para se livrar delas o baterista promove esguichos de água quando bate nas peles, embaçando o acrílico que envolve o aquário de seu instrumento. Ele também começa a fazer malabarismos com as baquetas que voam alto sobre sua cabeça. Mas o ápice de todas as ações do Pretenders na noite gaúcha que promove a despedida da banda em terras brasileiras fica reservado para os últimos instantes: "Middle of The Road", o mais afiado dos temas, número escolhido a dedo por Chrissie para encerrar os concertos em que protagoniza, e exemplo para qualquer outra banda/artista de como deixar o público em êxtase frente a um bom show de rock. 1h10 de encenação, o terreno está adubado para o headliner da noite: Mr. Phil Collins. Até a próxima, Miss Hynde!   

Nossos agradecimentos a Agência Preview pelo suporte e credenciamento.     .   

Setlist Pretenders PoA

Alone
Talk Of The Town
Back On The Chain Gang
Private Life
Brass in Pocket
Hymn to Her
Stop Your Sobbing
Message of Love
I'll Stand by You
Forever Young
Down the Wrong Way
Don't Get Me Wrong
Mystery Achievement
Middle of the Road

Foto: Marcos Nagelstein

ÚLTIMA COBERTURA:

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