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sexta-feira, 1 de maio de 2015

MONSTERS TOUR (MOTORHEAD, JUDAS PRIEST, OZZY OSBOURNE) - PORTO ALEGRE, 30 DE ABRIL DE 2015

Zequinha abarrotado no Monsters Tour. Fotos: Gika Oliva
Muitas vezes fica difícil partir para definições exatas sobre um gênero musical e atrações arraigadas em nossa memória afetiva. Gosto de heavy metal, como muitos garotos nos anos 1980, ouvi dezenas de bandas pesadas e aprendi muito sobre o tema, seja na troca de figurinhas com os amigos, ou movido pelo próprio instinto. Numa época pré-internet, esse tipo de relação era uma espécie de pivô para fundamentar boas amizades e entrelaçar afinidades. Assim, por exemplo, forjei longevas parcerias e como bônus conheci álbuns do Judas Priest, Black Sabbath, Motorhead, e aí vai.

Ozzy Osbourne, um dos Mestres de Cerimônia da noite. Foto: Gika Oliva
Ainda nesse terreno, fácil concluir que a rara possibilidade de assistir a uma trinca de criadores do metal – em uma única noite-, é no mínimo um delicioso exercício de saudosismo. Na verdade é muito mais do que isso: – é uma espécie de elixir de renovação. Dentro desse espírito, convidei os amigos Homero Pivotto Jr, Daniel Scola, Roberto Lenz e Agnaldo Gomes para dividirem seus pontos de vista conosco.

Cerca de 16.000 pessoas prestigiaram a edição gaúcha do Monsters of Rock, realizado no Estádio do Zequinha, em Porto Alegre . Tudo começou com a prata da casa Zerodoze, banda que infelizmente não pude assistir. Culpa do caos urbano do final da tarde e de um pequeno acidente de trânsito com o micro-ônibus que me levou até a Zona Norte da cidade.

Lemy Kilmister, líder do Motorhead. Foto: Gika Oliva
As filas monstruosas que se formaram ao longo do Zequinha ainda estavam sendo escoadas quando surge o Motorhead na nossa frente, uma aparição que gerava dúvidas de se materializar. E lá está ele, Lenny Kilmister, líder da banda inglesa, que depois do cancelamento do show em São Paulo, já havia tocado dois dias antes em Curitiba. Ao seu lado, os velhos parceiros de sempre, o performático e agitador Mikkey Dee (bateria) e a formiga atômica Phil Campbell (guitarra). O desgaste do tempo e os excessos roubaram grande parte da energia do líder do grupo, algo explícito em suas falas entre as músicas e na rara movimentação pelo palco.

Apesar desse aspecto, no quesito desempenho no baixo e principalmente no vocal, que guardadas as devidas proporções, ainda soa firme e monstruoso, o líder do trio ‘não deixou o motor esfriar’. A frase do fã Homero Pivotto Jr, jornalista freelance e assessor da Abstratti Produtora, é categoricamente complementada: “se o Elvis decadente é melhor que muita gente, o mesmo pode servir para tio Lemmy Kilmister. Não que o velhote verruguento esteja decrépito, mas é notório que não opera com 100% de sua capacidade”.

Foto: Gika Oliva
A apresentação não chega a empolgar, mas ainda impressiona pelo impacto de um repertório repleto de clássicos. O impressionante número de pessoas com camisetas da banda mostra que o publico deles estava lá. Daniel Scola, editor chefe da Rádio Gaúcha, e um dos maiores fãs de Motorhead que conheço, ficou preocupado com a atual condição física de Lemmy: “confesso que fiquei um pouco preocupado. Ele chegou a se embananar quando chamou “Rock It”, música que já tinha tocado. Já não tem mais vigor algum. O Phil Campbell é a bengala dele”.

Sobre as músicas escolhidas para a noite, Scola se rende: “O Motorhead sempre faz o mesmo show. Uma hora, uma música emendada na outra. Setlist sem surpresas. Claro que gostei”, disse o jornalista. Já Pivotto, com ares proféticos, relembra uma das cenas marcantes do fim da apresentação: “a imagem do Lemmy escorando seu instrumento na caixa de som e desligando o amplificador pareceu bem ilustrativa, quem sabe até um presságio, nesse sentido”.

Foto: Gika Oliva
Setlist:

1. Shoot You in the Back
2. Damage Case
3. Stay Clean
4. Metropolis
5. Over the Top
6. Guitar Solo
7. Suicide
8. Rock It
9. The Chase Is Better Than the Catch
10. Do You Believe
11. Lost Woman Blues
12. Doctor Rock (com solo de bateria)
13. Just ‘Cos You Got the Power
14. Going to Brazil
15. Ace of Spades Bis
16. Overkill

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O showman Rob Halford. Foto: Gika Oliva
Promovendo um desfile de clichês, para muitos (inclusive eu) a melhor banda da noite vem a seguir. “Para quem estava no evento esperando um show de heavy metal, certamente o Judas Priest foi o destaque do Monsters”, relembra Pivotto. O vocalista é um dos maiores pregadores do rock, isso fica muito claro em sua constante hiperatividade pelas quatro linhas. Troca de roupa inúmeras vezes, cenicamente pode surgir com uma bengala (fingindo uma demência ou deficiência), para logo depois acelerar palco adentro com uma potente motocicleta, reprisando uma das imagens símbolo do Judas. “Show perfeito mesclando clássicos com músicas do mais recente trabalho. Halford é um showman”, exalta Agnaldo Gomes, apresentador do programa “Songs of Darkness” da On The Rocks.

Faulkner e Tipton, dupla afiada de guitarristas. Foto: Gika Oliva
Homero Pivotto também não tem dúvida sobre quem comandou as ações no Judas: “Rob Halford divou do começo ao fim, em desempenho, energia, qualidade vocal e figurino. No palco, a banda mostra-se entrosada e à vontade”. Se a saída do guitarrista K.K. Downing assustou a muitos fãs da banda, o novato Richie Faulkner dá a impressão que toca ao lado de Glen Tipton desde o tempo da Santa Ceia.

O novo álbum – “Redeemer of Souls” – além de faixa homônima rendeu ainda canções como “Dragonaut” e “Halls of Valhalla”, presenças importantes no repertório do tour atual. E ouvir o público cantando na íntegra grande parte do repertório, mostra quanto o Judas Priest marcou toda a uma geração. “Apesar de ter ajuda de sustein na voz, o Rob continua espetacular”, chama a atenção o meu velho amigo de lojas de discos Roberto Lenz. Ouça-o arrepiando a lá ‘castratti’ em “Pinkiller” e entenda por que o velho merece seu lugar no panteão dos gigantes do metal.

Setlist:

1. Dragonaut
2. Metal God
3. Devil’s Child
4. Victim of Changes
5. Halls of Valhalla
6. March of the Damned
7. Turbo Lover
8. Redeemer of Souls
9. Jawbreaker
10. Breaking the Law
11. Hell Bent For the Leather
12. Electric Eye
13. Painkiller
14. Living After Midnight

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Ozzy, logo no início da sua apresentação; Foto: Gika Oliva
“Foi só o príncipe das trevas entrar em ação para a loucura começar de vez. Ao dar a ordem ‘let the madness begin’, o eterno vocalista do Black Sabbath, Ozzy acionou o botãozinho da insanidade coletiva no estádio do Zequinha”, chama atenção Homero Pivotto. “O que impressiona é que o velho se diverte em cima do palco e isso contagia todos que estão assistindo”, reforça Agnaldo. O homem que ajudou a forjar os alicerces do gênero, parece rejuvenescido, mais magro, com a voz característica dizendo milhares de vezes a mesma frase “let me see your fucking hands”. E claro que toda a plateia levanta as mãos de 30 em 30 segundos. Toda a energia que escapa de Lemmy sobre no Príncipe das Trevas do rock.

Ozzy, logo no início da sua apresentação; Foto: Gika Oliva
E se alguém em frente ao palco não levanta as mãos ou deixa de cantar uma música, bueno, Ozzy volta a intimar a audiência. Que tipo de boleta ele anda tomando? Brincadeiras a parte, entre seu repertório de ações, temos os tradicionais pulinhos e o banho com mangueira e baldes de água na plateia. Avisados pela produção local, alguns fotógrafos credenciados cobrem o evento com capas de chuva e proteções adaptadas em seus equipamentos. Eu próprio tomei meu banho de espuma com o velho.

Foto: Gika Oliva
A jovem banda formada por Rob Blasko (baixo), Gus G. (guitarra) e Tommy Clufetos (bateria), não deve em nada para outros bons times que o vocalista trabalhou e montou desde sua saída do Sabbath. No setlist, uma mistura de clássicos da carreira solo com hits da banda que o tornou famoso. Uma receita que fornece um caminho muito rápido para a satisfação de qualquer fã de som pesado, do mais jovem, ao mais escolado. “Ozzy é um extraterrestre, não pode ser humano”, arremata meu velho amigo Roberto Lenz. Disse pouco e disse tudo.

Setlist:

1. Bark at the Moon
2. Mr. Crowley
3. I Don’t Know
4. Fairies Wear Boots (Black Sabbath)
5. Suicide Solution
6. Road to Nowhere
7. War Pigs (Black Sabbath)
8. Shot in the Dark
9. Rat Salad (Black Sabbath, com solos de guitarra e bateria)
10. Iron Man (Black Sabbath song)
11. I Don’t Want to Change the World
12. Crazy Train Bis
13. Paranoid (Black Sabbath)

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