Zequinha abarrotado no Monsters Tour. Fotos: Gika Oliva |
Muitas vezes fica difícil partir para definições exatas sobre um gênero musical e atrações arraigadas em nossa memória afetiva. Gosto de heavy metal, como muitos garotos nos anos 1980, ouvi dezenas de bandas pesadas e aprendi muito sobre o tema, seja na troca de figurinhas com os amigos, ou movido pelo próprio instinto. Numa época pré-internet, esse tipo de relação era uma espécie de pivô para fundamentar boas amizades e entrelaçar afinidades. Assim, por exemplo, forjei longevas parcerias e como bônus conheci álbuns do Judas Priest, Black Sabbath, Motorhead, e aí vai.
Ozzy Osbourne, um dos Mestres de Cerimônia da noite. Foto: Gika Oliva |
Ainda nesse terreno, fácil concluir que a rara
possibilidade de assistir a uma trinca de criadores do metal – em uma única
noite-, é no mínimo um delicioso exercício de saudosismo. Na verdade é muito
mais do que isso: – é uma espécie de elixir de renovação. Dentro desse
espírito, convidei os amigos Homero Pivotto Jr, Daniel Scola, Roberto Lenz e
Agnaldo Gomes para dividirem seus pontos de vista conosco.
Cerca de 16.000 pessoas prestigiaram a edição gaúcha
do Monsters of Rock, realizado no Estádio do Zequinha, em Porto Alegre . Tudo
começou com a prata da casa Zerodoze, banda que infelizmente não pude assistir.
Culpa do caos urbano do final da tarde e de um pequeno acidente de trânsito com
o micro-ônibus que me levou até a Zona Norte da cidade.
Lemy Kilmister, líder do Motorhead. Foto: Gika Oliva |
As filas monstruosas que se formaram ao longo do
Zequinha ainda estavam sendo escoadas quando surge o Motorhead na nossa frente,
uma aparição que gerava dúvidas de se materializar. E lá está ele, Lenny
Kilmister, líder da banda inglesa, que depois do cancelamento do show em São
Paulo, já havia tocado dois dias antes em Curitiba. Ao seu lado, os velhos
parceiros de sempre, o performático e agitador Mikkey Dee (bateria) e a formiga
atômica Phil Campbell (guitarra). O desgaste do tempo e os excessos roubaram
grande parte da energia do líder do grupo, algo explícito em suas falas entre
as músicas e na rara movimentação pelo palco.
Apesar desse aspecto, no quesito desempenho no baixo
e principalmente no vocal, que guardadas as devidas proporções, ainda soa firme
e monstruoso, o líder do trio ‘não deixou o motor esfriar’. A frase do fã
Homero Pivotto Jr, jornalista freelance e assessor da Abstratti Produtora, é
categoricamente complementada: “se o Elvis decadente é melhor que muita gente,
o mesmo pode servir para tio Lemmy Kilmister. Não que o velhote verruguento
esteja decrépito, mas é notório que não opera com 100% de sua capacidade”.
Foto: Gika Oliva |
A apresentação não chega a empolgar, mas ainda
impressiona pelo impacto de um repertório repleto de clássicos. O
impressionante número de pessoas com camisetas da banda mostra que o publico
deles estava lá. Daniel Scola, editor chefe da Rádio Gaúcha, e um dos maiores
fãs de Motorhead que conheço, ficou preocupado com a atual condição física de
Lemmy: “confesso que fiquei um pouco preocupado. Ele chegou a se embananar
quando chamou “Rock It”, música que já tinha tocado. Já não tem mais vigor
algum. O Phil Campbell é a bengala dele”.
Sobre as músicas escolhidas para a noite, Scola se
rende: “O Motorhead sempre faz o mesmo show. Uma hora, uma música emendada na
outra. Setlist sem surpresas. Claro que gostei”, disse o jornalista. Já
Pivotto, com ares proféticos, relembra uma das cenas marcantes do fim da
apresentação: “a imagem do Lemmy escorando seu instrumento na caixa de som e
desligando o amplificador pareceu bem ilustrativa, quem sabe até um presságio,
nesse sentido”.
Foto: Gika Oliva |
Setlist:
1. Shoot You in
the Back
2. Damage Case
3. Stay Clean
4. Metropolis
5. Over the Top
6. Guitar Solo
7. Suicide
8. Rock It
9. The Chase Is
Better Than the Catch
10. Do You
Believe
11. Lost Woman
Blues
12. Doctor Rock (com solo de bateria)
13. Just ‘Cos
You Got the Power
14. Going to
Brazil
15. Ace of
Spades Bis
16. Overkill
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O showman Rob Halford. Foto: Gika Oliva |
Promovendo um desfile de clichês, para muitos
(inclusive eu) a melhor banda da noite vem a seguir. “Para quem estava no
evento esperando um show de heavy metal, certamente o Judas Priest foi o
destaque do Monsters”, relembra Pivotto. O vocalista é um dos maiores
pregadores do rock, isso fica muito claro em sua constante hiperatividade pelas
quatro linhas. Troca de roupa inúmeras vezes, cenicamente pode surgir com uma
bengala (fingindo uma demência ou deficiência), para logo depois acelerar palco
adentro com uma potente motocicleta, reprisando uma das imagens símbolo do
Judas. “Show perfeito mesclando clássicos com músicas do mais recente trabalho.
Halford é um showman”, exalta Agnaldo Gomes, apresentador do programa “Songs of
Darkness” da On The Rocks.
Faulkner e Tipton, dupla afiada de guitarristas. Foto: Gika Oliva |
Homero Pivotto também não tem dúvida sobre quem
comandou as ações no Judas: “Rob Halford divou do começo ao fim, em desempenho,
energia, qualidade vocal e figurino. No palco, a banda mostra-se entrosada e à
vontade”. Se a saída do guitarrista K.K. Downing assustou a muitos fãs da
banda, o novato Richie Faulkner dá a impressão que toca ao lado de Glen Tipton
desde o tempo da Santa Ceia.
O novo álbum – “Redeemer of Souls” – além de faixa
homônima rendeu ainda canções como “Dragonaut” e “Halls of Valhalla”, presenças
importantes no repertório do tour atual. E ouvir o público cantando na íntegra
grande parte do repertório, mostra quanto o Judas Priest marcou toda a uma
geração. “Apesar de ter ajuda de sustein na voz, o Rob continua espetacular”,
chama a atenção o meu velho amigo de lojas de discos Roberto Lenz. Ouça-o
arrepiando a lá ‘castratti’ em “Pinkiller” e entenda por que o velho merece seu
lugar no panteão dos gigantes do metal.
Setlist:
1. Dragonaut
2. Metal God
3. Devil’s Child
4. Victim of
Changes
5. Halls of
Valhalla
6. March of the
Damned
7. Turbo Lover
8. Redeemer of
Souls
9. Jawbreaker
10. Breaking the
Law
11. Hell Bent
For the Leather
12. Electric Eye
13. Painkiller
14. Living After Midnight
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Ozzy, logo no início da sua apresentação; Foto: Gika Oliva |
“Foi só o príncipe das trevas entrar em ação para a
loucura começar de vez. Ao dar a ordem ‘let the madness begin’, o eterno
vocalista do Black Sabbath, Ozzy acionou o botãozinho da insanidade coletiva no
estádio do Zequinha”, chama atenção Homero Pivotto. “O que impressiona é que o
velho se diverte em cima do palco e isso contagia todos que estão assistindo”,
reforça Agnaldo. O homem que ajudou a forjar os alicerces do gênero, parece
rejuvenescido, mais magro, com a voz característica dizendo milhares de vezes a
mesma frase “let me see your fucking hands”. E claro que toda a plateia levanta
as mãos de 30 em 30 segundos. Toda a energia que escapa de Lemmy sobre no
Príncipe das Trevas do rock.
Ozzy, logo no início da sua apresentação; Foto: Gika Oliva |
E se alguém em frente ao palco não levanta as mãos
ou deixa de cantar uma música, bueno, Ozzy volta a intimar a audiência. Que
tipo de boleta ele anda tomando? Brincadeiras a parte, entre seu repertório de
ações, temos os tradicionais pulinhos e o banho com mangueira e baldes de água
na plateia. Avisados pela produção local, alguns fotógrafos credenciados cobrem
o evento com capas de chuva e proteções adaptadas em seus equipamentos. Eu
próprio tomei meu banho de espuma com o velho.
Foto: Gika Oliva |
A jovem banda formada por Rob Blasko (baixo), Gus G.
(guitarra) e Tommy Clufetos (bateria), não deve em nada para outros bons times
que o vocalista trabalhou e montou desde sua saída do Sabbath. No setlist, uma
mistura de clássicos da carreira solo com hits da banda que o tornou famoso.
Uma receita que fornece um caminho muito rápido para a satisfação de qualquer
fã de som pesado, do mais jovem, ao mais escolado. “Ozzy é um extraterrestre,
não pode ser humano”, arremata meu velho amigo Roberto Lenz. Disse pouco e disse tudo.
Setlist:
1. Bark at the
Moon
2. Mr. Crowley
3. I Don’t Know
4. Fairies Wear
Boots (Black Sabbath)
5. Suicide
Solution
6. Road to Nowhere
7. War Pigs
(Black Sabbath)
8. Shot in the
Dark
9. Rat Salad
(Black Sabbath, com solos de guitarra e bateria)
10. Iron Man
(Black Sabbath song)
11. I Don’t Want
to Change the World
12. Crazy Train
Bis
13. Paranoid
(Black Sabbath)
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