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segunda-feira, 23 de setembro de 2024

JOSS STONE — BELO HORIZONTE, 22 DE SEMBRO DE 2024

Foto: Romero Carvalho
| Por Romero Carvalho |

Não é segredo para quem acompanha o nosso podcast “Quando o Som Bate no Peito”, que voltará no próximo mês, a minha admiração imensa pela discografia e obra da cantora inglesa Joss Stone. Em um dos nossos episódios, falei da minha redescoberta de seus álbuns e de como ela produziu em 20 anos uma carreira sólida e artisticamente interessante. A cantora, que fez sua estreia em 2003, aos 16 anos, amadrinhada pela lenda do soul/funk Betty Wright, celebra em sua turnê Ellipsis estas duas décadas de estrada, em que teve até coragem para romper com grandes gravadoras e trilhar um caminho independente. Neste momento, ela está no Brasil e, aproveitando a vinda para o Rock in Rio, fez shows em Ribeirão Preto, Belo Horizonte e fará em São Paulo.

E preciso dizer: assisti-la em Belo Horizonte, num BeFly Hall bem menos cheio do que deveria, foi um arrebatamento musical. Que Joss Stone canta muito, compõe bem e escolhe com precisão o repertório são coisas bem celebradas. Mas sua presença no palco é avassaladora. Talento, carisma, simpatia, beleza, charme e conexão pessoal com a plateia em níveis estratosféricos. Posso dizer com segurança que é uma das maiores presenças de palco que já presenciei em minha vida. Se não for a maior. Soma-se a isso uma banda espetacular, cheia, com metais, backing vocalistas e tudo o que pede um bom show de funk/soul raiz. E raiz é a palavra pro show, que não tinha telão, cenário, nenhuma base pré-gravada ou clique. Era só música! 

Abrindo com seu grande sucesso de estreia, a funky Super Duper Love, Joss desceu do palco, foi para o meio do público e fez todos saírem de suas cadeiras. Avisou que era uma noite para se divertirem e dançarem à vontade. O local veio abaixo e ela já tinha total domínio da plateia. Quando os seguranças do espaço tentaram obrigar as pessoas a se sentarem novamente, a britânica interveio e exigiu o desobedecimento. Em pouco mais de 1h30, o baile seguiu com funks pesadíssimos, baladas soul no melhor estilo Al Green, funk-rock, reggae – ritmo muito presente no ótimo álbum “Water for your soul” – e seleções de clássicos da disco music, gênero que parece agradar os pequenos filhos da cantora.

Com muita generosidade, Joss Stone deixa todos os seus músicos brilharem no palco, incluindo números solo para cada backing vocal. Atendeu pedidos do público em cartazes que sugeriam canções e fez com que cada um próximo a ela tivesse uma conexão pessoal com a diva acessível. Ao final, um gesto já clássico em seus espetáculos, ela distribui girassóis para a plateia e arremessou um para mim. Se no site dela vende réplicas de cera dos girassóis arremessados, penso que vou emoldurar a minha linda flor real.

Joss Stone tem sido chamada de última diva branca do soul. Como no clássico do Tolkien, quando os elfos anunciam que não é mais o tempo deles, quase semi-deuses, na Terra Média, parece que também não estamos mais na era das divas. Mas enquanto trovejar a voz de Joss, o ritual de arrebatamento por esta divindade musical está garantido para quem tiver a oportunidade de estar em seus bailes. O girassol floresce. 

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