UMA BREVE VIAGEM NO TEMPO –
Se você pudesse voltar ao final da década de 1980, seria muito provável
que ao ligar o rádio, “You Make Me Love You”, faixa do segundo disco solo de
Roger Hodgson tocasse em algum momento dessa recordação. O papo na segunda metade da década é que
o Supertramp não é mais o mesmo após a saída de Roger; e que o som de Roger mudou
depois de ter abandonado o Supertramp.
Confira o álbum de fotos de Juliana Pozzatti
Estamos em 9 de janeiro de 1988, acaba o Fantástico na TV e a Globo transmite alguns shows do Hollywood Rock, com a Praça da Apoteose apinhada de gente. O Supertramp faz o encerramento da última noite do evento. Você acompanha as imagens e percebe que algo está faltando... Veja aqui Poucos anos depois da ruptura entre os dois principais compositores do grupo, os fãs continuam a olhar para o passado recente. Na sua casa, a cerimônia principal ainda é colocar no toca-discos “Paris”, álbum ao vivo do Supertramp. E depois você apaga as luzes da sala. Lá Roger e Rick ainda estão juntos. E assim a viagem começa...
Saiba mais sobre "Paris" (1980) e veja o show completo aqui
Estamos em 9 de janeiro de 1988, acaba o Fantástico na TV e a Globo transmite alguns shows do Hollywood Rock, com a Praça da Apoteose apinhada de gente. O Supertramp faz o encerramento da última noite do evento. Você acompanha as imagens e percebe que algo está faltando... Veja aqui Poucos anos depois da ruptura entre os dois principais compositores do grupo, os fãs continuam a olhar para o passado recente. Na sua casa, a cerimônia principal ainda é colocar no toca-discos “Paris”, álbum ao vivo do Supertramp. E depois você apaga as luzes da sala. Lá Roger e Rick ainda estão juntos. E assim a viagem começa...
Saiba mais sobre "Paris" (1980) e veja o show completo aqui
Voltando a 21 de março de 2017, assistir ao vivo o “Breakfast in America
Tour 2017” é um momento único. Especial! Isso está muito claro pra você. Lembrando,
Rick Davies ainda se recupera do tratamento de um câncer, e com isso o
Supertramp está parado há cerca de dois anos. De todo o modo, mesmo fora da
banda, são as canções de Roger Hodgson que dominam esse hemisfério ligado à
memória afetiva do grupo. Por mais que houvesse um equilíbrio entre as
composições da dupla (e essa era a grande jogada do Super Vagabundo), há algo
inexplicável ligado às músicas que Roger compôs. A impressão é que a magia de
suas canções permanece intacta.
Depois de três anos e na sua quinta visita ao Brasil, Roger Hodgson atua
no mesmo modus operandi de suas vindas anteriores. Desde 2004 o músico inglês mantém
uma média de 40 shows por ano, e para nossa alegria, o que domina o set são as
canções que compôs na época em que esteve no Supertramp, mais propriamente os
temas de cinco álbuns: “Crime of Century” (1974), “Crisis? What Crisis?”
(1975), “Even in The Quiestest Moments” (1977), “Breakfast in America” (1979) e
“Famous Last Words” (1982), oito anos que tornaram o grupo uma das grandes
pedras preciosas da música internacional. Após sair do time, lançou apenas três discos de estúdio: o ótimo “In The
Eye of The Storm’’ de 1984, o razoável “Hai Hai” de 1987 e o bom “Open The
Door” de 2011.
E mesmo que nos selos dos LPs e encartes do Supertramp você leia que
todos os temas são assinados por Hodgson/Davies (é o último quem detém a
utilização do nome ‘Supertramp’), eles compunham individualmente, mas assinavam
em dupla - assim como aconteceu com Lennon/McCartney, a mais famosa das duplas
do gênero. Em suma, no “Breakfast in America Tour 2017”, Roger canta apenas as
‘suas músicas’. E que músicas!
21h35, o protagonista da noite entra no palco vestido de branco, saudando a audiência com uma xícara de chá na mão direita, enquanto o público prontamente o recepciona com “Parabéns a Você! Na noite em que
comemora 67 anos, Roger Hodgson agradece, calmamente senta em frente ao piano e brinca com as
teclas até disparar a sequência de acordes iniciais de “Take a Long Way Home”. Uma música perfeita que reflete os dilemas
de uma banda/artista na estrada.
Antes de tocar o segundo número da noite, Roger conversa
longamente com o público. É interrompido novamente por um novo “Parabéns a Você”.
Diz que se apaixonou pelo Brasil desde sua primeira vinda em 2004. “Estou feliz
em estar aqui”, fala em tropego português. E depois convoca a audiência a esquecer dos
problemas do mundo lá fora e apenas curtir toda a intensidade do espetáculo. É quando
o músico pega a guitarra e ouvimos “School”
– clássico em que nos avisa que o esforço pela perda da inocência é
inevitável, mas essa viagem rumo à vida adulta nos trará muita frustração. Não nesta noite...
Fotos: Juliana Pozzatti |
O bolo de aniversário de Roger em Porto Alegre. Foto: Facebook Roger Hodgson |
Ancorado por um talentoso quarteto, no palco o músico
canadense Aaron McDonald (saxofone, clarinete, harmônica, teclados, voz e outros instrumentos), além de três norte-americanos - Armen Chakamakian (teclados e voz) - e não Kevin Adamson, como você leu em algumas resenhas - David Carpenter
(baixo e voz) e Brian Head (bateria). A atmosfera do quarteto pode ser facilmente percebida em “Hide in Your Shell”, uma letra que fala de como podemos (e
devemos) ajudar nossos entes queridos a superarem momentos difíceis. E também é
chance de conferir o lendário som do teclado Wurtlizer, e
sua sonoridade muitas vezes confundida com a plástica do Supertramp. Por isso, Hodson a frente do ‘Wurly’ (forma carinhosa em que os músicos muitas
vezes se referem ao instrumento) é uma das imagens carimbadas de uma banda que poucas
vezes ancorou a guitarra ao seu protagonismo.
Fotos: Juliana Pozzatti |
Escrita em 1979, atualmente a letra de “Logical Song” pode ser relacionada à crueldade do julgamento das redes sociais aos
expressarmos nossas opiniões. Alguém avisa: “Cuidado com o que você diz / ou eles o chamarão de radical, liberal, fanático,
religioso”. E o juiz determina: “[Sim], você não vai assinar o seu nome /
Gostaríamos de sentir se você é aceitável, respeitável, apresentável, [afinal,
você precisar continuar sendo] um vegetal”. Um clássico que soa muito
semelhante ao original, com o som batendo forte no peito. Essa é outra
característica das músicas de Roger, elas permanecem relevantes. Antes do show, no táxi a caminho
do Pepsi, a fotógrafa Juliana Pozzatti (autora das imagens dessa resenha) nos
lembra que em uma de suas primeiras aulas de inglês, sua professora utilizava essa música para catequizar os rebentos locais. Outros tempos...
Fotos: Juliana Pozzatti |
Em um português terrível, Hodgson nos pergunta: “O que você faria se
tivesse a opção de ser morto ou ficar confinado o restante da existência em um
zoológico?” “Death and Zoo” é seu manifesto
contra o aprisionamento de animais selvagens. É necessário lembrar que apesar das dificuldades em tentar falar a nossa língua, sempre muito simpático e tranquilo, Roger leva tudo na boa. O resultado disso é que ele tem o público sempre na mão em todos os momentos do show.
Foto: Juliana Pozzatti |
"Child in Vision", único momento da noite em que o tecladista Armen Chakamakian sai detrás do seu teclado e vai para o piano, revela o solo mais chamuscado de blues/jazz da apresentação. O quinteto de músicos o faz lembrar que a parte cantada desse tema parece apenas uma desculpa para potencializar o tour-de-force de três teclados produzindo uma camada sonora repleta de groove e balanço.
Foto: Juliana Pozzatti |
Se você buscar na memória, é provável que “Dreamer” tenha sido a primeira canção do Supertramp a ter lhe
pegado de jeito. Ancorado no piano Wurlitzer (na gravação de
estúdio há uma guitarra que desaparece nessa encarnação atual), sem
dúvida, esse é um dos sons que ajudaram o Tramp a escalonar o topo do rock nos
anos 1970. O público, de forma mais do que esperada, delira!
.
.
Foto (celular): Juliana Pozzatti |
A banda se despede, as luzes se apagam, e após os apelos da audiência,
Roger Hodson e seu quarteto estão de volta para um dos melhores momentos da
noite. “Had a Dream (Sleeping With the
Enemy)”, abre-alas do primeiro LP solo do músico, é um som com a cara da
sua ex-banda e claramente evoca a sensação de liberdade após sua debandada do time. Roger, David Carpenter e Aaron McDonald cantam a música a três vozes. E numa
noite em que o som da guitarra poucas vezes ganhou projeção, o ex-Supertramp faz
os únicos três breves solos de guitarra da apresentação.
Foto: Juliana Pozzatti |
Contudo, o
grande barato é estar de contrato renovado com seu íntimo, por isso, olha com
reverência para o aniversariante do dia e agradece ao #superandarilho Roger
Hodgson por ter deixado esse traço brilhante de luz que insiste em não
arrefecer. Esse é um daqueles shows que não o deixa esquecer o quanto a música ainda é um dos grandes acontecimentos de nossas vidas.
Juliana Pozzatti |
Até a próxima, Roger.
Confira o setlist:
01
“Take
a Long Way Home”
02 “School”
03 “In The Jeopardy”
04 “Lovers in The Wind”
05 “Breakfast in America”
06 “Hide in Your Shell”
07 “Easy Does It”
08 “Sister Moonshine”
09 “Logical Song”
10 “Lord
It is Mine”
11 “Death and Zoo”
12 “If Everyone Was Lintening”
13 “Along Came Mary”
14 "Child in Vision"
15 “Birthday”
16 “Dreamer”
17 “Fool’s Overture”
Bis
18 “Had a Dream (Sleeping With the Enemy)”
19 “Give a Little Bit”
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