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Por Lúcio Brancato Fotos: Chico Lisboa |
Não é nenhum exagero começar o review dizendo que presenciei ao vivo um raro fenômeno na música instrumental mundial. Difícil contar nos dedos quantas bandas do gênero tiveram – ou tem – um sucesso tão grande de público e de crítica nas últimas décadas. E mais, me deixe saber quantas conseguem engajar um público tão jovem e atento na audição. O show do Snarky Puppy no Auditório Araújo Vianna, na noite de quarta-feira, dia 25 de maio, foi uma celebração de musicalidade complexa, mas ainda assim acessível.
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Foto: Chico Lisboa |
Formada em 2004, este coletivo de instrumentistas segue uma tradição muito comum nos Estados Unidos, bandas formadas por estudantes vindos de grandes escolas ou academias como Berklee e Juilliard. No caso da Snarky Puppy, a turma se encontrou na University of North Texas. O que poderia ficar restrito a um circuito mais fechado de um público de músicos para músicos, ganhou o mundo arrebatando seguidores fiéis não só em festivais mais tradicionais de jazz, como também em palcos de eventos multiculturais e até pop. Desde ao lançamento do primeiro álbum, “The Only Constant” (2006), eles vêm empilhando uma série premiações no Grammy Awards, na mesma medida em que aumentam seu público.
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Foto: Chico Lisboa |
A turnê que passa neste momento pela América Latina faz parte do lançamento do “Empire Central" (2022), que também já emplacou como vencedor do Grammy, na categoria de melhor álbum de música instrumental contemporânea. A Big Band que chega a ter mais de 25 músicos no seu time, funciona de forma mutante variando a formação de acordo com a disponibilidade dos integrantes, já que são músicos de alta performance requisitados para acompanhar artistas dos mais variados gêneros que vão desde Erykah Badu e Marcus Miller, a Snnop Dogg e Stanley Clarke.
O combo liderado pelo excelente baixista Michael League, trouxe 10 músicos para esta apresentação. Além de Michael, Jason JT Thomas (bateria), Keita Ogawa (percussão) Bob Lanzetti (guitarra), Zach Brock (violino), Bill Laurance (teclados), Justin Stanton (teclados e trompete), Mike “Maz” Maher (trompete), Jay Jennings (trompete), Chris Bullock (sax e flauta), formam a trupe estelar.
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Foto: Chico Lisboa |
Com bom público no auditório, formado na sua maioria por jovens entusiastas da música instrumental, abrem o show com três músicas do recente álbum. Em seguida, o líder Michael anuncia no microfone que, por ser a primeira vez que se apresentam em Porto Alegre, resolveram modificar o roteiro da turnê e presentear a plateia com repertório variado num passeio por outros discos da banda. Chama então ao palco o convidado especial Tuti Rodrigues, percussionista brasileiro, para tocar o tema “Semente”, presente no álbum “Culcha Vulcha" (2016). Aliás, a música brasileira é uma forte influência na banda, em suas passagens pelo país estão constantemente recebendo artistas nacionais para jams e gravações. Entre outras peças de Empire, emendam ainda “Thing of Gold”, de “GroudUP" (2012).
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Foto: Chico Lisboa |
O show é de uma energia plena do início ao fim. Um dos méritos da banda é saber dosar muito bem o virtuosismo de cada instrumentista com passagens mais melódicas e groovadas. Por sinal, acredito que o groove mais pop e acessível, em meio a tanta quebradeira, seja a fórmula de sucesso com o público mais jovem que acompanha a banda. São temas até dançantes, que se mesclam entre momentos mais complexos e virtuosos. O caldeirão de referências é o que aproxima um público tão diverso. Agrada com facilidade ouvintes já mais acostumados com artistas como Weather Report, Mahavishnu Orchestra, King Crimson e Parliament/Funkadelic. Durante todo espetáculo é muito fácil e prazeroso identificar o crossover de jazz fusion, rock progressivo, funk e smooth jazz.
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Fotos: Chico Lisboa |
É uma alegria imensa presenciar uma música tão rica e universal na sua essência. Uma arte executada com plenitude por um conjunto de jovens instrumentistas dispostos a romper qualquer barreira musical. Num show de músicas longas nem se percebe o tempo passar. Somos envolvidos por cada instante de brilho no palco onde é dado destaque individual a cada integrante, para em seguida recebermos uma avalanche sonora e melódica de lindos temas em grupo.
A turnê no Brasil que começou pela capital gaúcha, segue ainda para São Paulo (25/05), Rio de Janeiro (26/05) e Curitiba (28/05). Tanto para saudosos do fusion dos anos 1970, quanto para a nova geração dos anos 2000, um espetáculo imperdível do que há de melhor na música instrumental contemporânea. Uma aula de boa música e execução ministrada por competentes ex-acadêmicos, hoje professores da nova música.
Agradecimentos a Daniela Sangalli (Opinião Produtora) pela assessoria, suporte e credenciamento.
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Fotos: Chico Lisboa |
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