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quarta-feira, 5 de abril de 2023

SEAN MACK McDONALD — PORTO ALEGRE, 4 DE ABRIL DE 2023

 

| Foto: André Feltes | 
| Por Lúcio Brancato Fotos: André Feltes

Começo o review com uma confissão. Sempre que leio algo como “menino prodígio do blues”, “novo fenômeno do blues”, “a nova promessa do blues” e aí por diante, me dá uma certa preguiça. Desde sempre tais termos são usados com exaustão quando recebemos por aqui um nome pouco conhecido do gênero. Parece que basta ser norte-americano e jovem para receber este carimbo, já pude ver alguns shows onde isso não se confirmou.

Felizmente não foi o que aconteceu no último dia 4 de abril no Instituto Ling, em Porto Alegre. O guitarrista Sean “Mack” McDonald, nascido na cidade de Augusta, no Estado da Georgia (EUA), aos 21 anos de idade trouxe para o Delta do Jacuí uma pequena bagagem de referências do Delta do Savannah River, que banha sua cidade natal. Somou com maturidade e um ótimo resultado as escolas do blues rural com o blues elétrico.

Foto: André Feltes
Por mais que sua trajetória venha de um já tradicional padrão no blues  vindo do sul do país e um começo tocando em igreja — McDonald teve como vantagem o próprio momento atual da instantaneidade e rapidez que a Internet proporciona. Se nos primórdios do blues alguns músicos levaram anos para serem conhecidos e reconhecidos, há um bom tempo musicistas de localidades remotas surgem e logo são expostos para ouvidos atentos na renovação. Foi “descoberto” a partir de um vídeo que mostrava ele testando uma guitarra numa loja de instrumentos na sua cidade, quando tinha apenas 15 anos, tocando o clássico “Dust My Broom” de Robert Johnson. Revelou durante uma das falas no show que aprendeu a tocar sozinho no seu quarto assistindo muitos vídeos de blues no computador, ou seja, podemos dizer que a internet foi uma de suas escolas e também fator fundamental para sua descoberta.

Foto: André Feltes
Para nossa sorte, foi nas raízes do blues e do rock que o garoto aprofundou suas pesquisas. E não só na guitarra, o primeiro aprendizado começou no piano já aos 4 anos de idade, segundo contou. Foram as teclas de Ray Charles, Fats Domino e Little Richard seus primeiros caminhos traçados antes das cordas do violão e da guitarra. Para a minha sorte e do público no Instituto Ling, o show apresentado seguiu naturalmente um roteiro passeando pela própria formação ainda em andamento no jovem bluesman.

Quando pesquisei sobre ele e também assisti algumas apresentações que ele vinha fazendo, eram todas sempre acompanhado de baixo e bateria, no mínimo. Para minha surpresa e total deleite, neste show optou por tocar sozinho alternando entre o piano e a guitarra, algo que segundo o próprio é muito raro e fez poucas vezes. Adorei conhecê-lo neste formato mais cru, fazendo do palco do Ling  front porch de um casebre rural na Georgia. Entregou aquilo que espero e gosto de um artista do blues tradicional: minimalismo e feeling. 

Foto: André Feltes
Começou sentado ao piano com um boogie-woogie instrumental clássico, para em seguida emendar uma sequência interpretando temas de Fats Domino, Big Bill Broonzy, Little Richard e claro, não poderia faltar seu conterrâneo Ray Charles, seu maior ídolo. E mandou muito bem, principalmente na voz. De um timbre carregado na medida e daquela manha única cheia de sentimento passeando de tons mais graves para os agudos com muita facilidade e naturalidade.

Ao passar para a guitarra – uma linda Gibson Les Paul Gold Top – mostra que é ali que encontra seu leito de rio mais confortável e onde demostra maior intimidade na pegada fingerstyle e nos vocais. Focou a segunda parte do show mesclando temas tradicionais do blues rural e canções de músicos referência na formação do blues elétrico. Passou de trem por Lightnin’ Hopkins, Muddy Waters, Robert Lockwood Jr. e Robert Johnson, finalizando o passeio pelo Delta com aquela parada obrigatória numa igreja apresentando um tema de gospel blues.

Foto: André Feltes
Como é bom presenciar um músico novo ainda em formação e poder afirmar que, pelo tanto que já entrega no palco, dificilmente cairá no esquecimento dessa peneira que sempre foi o blues em relação a artistas novatos. Com tão pouca idade e de uma geração onde nas últimas décadas a garotada segue muito mais para o hip-hop do que para o blues, temos que celebrar que as buscas dele na internet entregaram o melhor da tradição do blues. Sequer lançou seu primeiro álbum, mas o fato estar totalmente dedicado a um gênero já centenário nos dá a esperança de renovação e de boa música. O garoto Mack tem o blues.

Agradecimento especial para Jéssica Barcellos pela assessoria, suporte e credenciamento.  

Foto: André Feltes

Foto: André Feltes

Foto: André Feltes

Foto: André Feltes

Foto: André Feltes

Foto: André Feltes

Foto: André Feltes

Foto: André Feltes

Foto: André Feltes

Foto: André Feltes

Um comentário:

  1. O primeiro instrumento dele foia bateria a os 2 anos. O pai dele é baterista.

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