Translate

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

STANLEY JORDAN + DUDU LIMA — PORTO ALEGRE, 30 DE JULHO DE 2022

Foto: Pablito Diego

Por Márcio Grings Fotos Pablito Diego

Bem na metade dos anos 1980, a guitarra jazzística encontrou uma projeção meteórica através da atuação de Stanley Jordan. O músico de Chicago, então com 25 anos, surgiu como arauto do tapping, técnica que consiste em tocar o braço, e não o corpo da guitarra. A diferença é que Jordan tocava linhas melódicas diferentes em cada mão, como se estivesse dedilhando um teclado. O auge de sua notoriedade está em "Magic Touch", álbum gravado em 1985 pelo prestigiado selo Blue Note. Quase 40 anos depois, mesmo sem a mesma atenção da grande mídia, mas sem deixar de produzir bons discos, Jordan continuou levando o jazz e a música instrumental pelos quatro cantos no mundo, e encontrou no Brasil um dos seus significativos quintais. Sorte nossa. Vê-lo ao vivo, aos 63 anos, ainda é impressionante.   

Foto: Pablito Diego

Aqui no país, Jordan já fez incontáveis apresentações, tanto em capitais quanto em cidades do interior, tocando em palcos prestigiados ou realizando shows gratuitos em praças e favelas. E, em grande parte desse tempo, pelo menos nos últimos 20 anos, Jordan encontrou em Minas Gerais um de seus principais amigos e colaboradores. Atualmente, O baixista Dudu Lima é um dos paladinos do jazz e da música instrumental no país, lançou CDs, DVDs, álbuns digitais e vinis, fez turnês pelo Brasil e no exterior, e já se emparceirou com João Bosco, Milton Nascimento, Wagner Tiso, Toninho Horta, Hermeto Pascoal, Marcos Suzano, entre outros.

“Dudu está entre os melhores contrabaixistas do mundo. Tenho certeza que vai ter admiradores por toda a vida", disse Jordan em entrevista. O símbolo dessa confiança e amizade com Dudu Lima continua a gerar frutos, pois o músico mineiro assina a produção musical do próximo álbum do guitarrista norte-americano, a ser lançado em 2023.  

Foto: Pablito Diego

A sólida parceria é perceptível quando vemos Stanley Jordan e Dudu Lima no palco montado no Parque da Redenção. A troca de olhares (ou a ausência dessa troca), os sorrisos mútuos, os gestos, o posicionamento e o som que ouvimos carimba o sucesso do duo em sua realização como time. Headliners do evento Blues Jazz Brasil Festival, esse foi o derradeiro show do evento ocorrido no último sábado (30), em Porto Alegre. Juntos já realizaram CDs, DVDs, gravações e cerca de 300 shows nos dois lados do Atlântico. E, graças a iniciativas como essa (viva a Lei Rouanet), o jazz e música instrumental seguem avançando terreno no inóspito, mas sempre frutífero território brasileiro: "A proliferação de festivais de jazz e música instrumental pelo país abre um cenário além dos espaços oferecidos pela grande mídia", disse Dudu ao Memorabilia. Afinal, o amor pelo trabalho artístico, a resiliência e a própria ação do tempo definem a autenticidade desse ofício e as conquistas dos músicos do gênero: "A música que fizemos contém verdade e atemporalidade, isso sustenta nossa paixão. No entanto, é claro que todas as iniciativas que impulsionem ainda mais a música instrumental são bem-vindas, pois mais espaços e divulgação sempre são necessários". Por isso — salve o Blues Jazz Brasil!  

Foto: Pablito Diego

Aos instrumentistas e curiosos — e até mesmo pela importância que seu nome traz como instrumentista na atualidade —, trago aqui algumas informações técnicas. O set utilizado por Dudu no RS conta com um contrabaixo vertical que emula a sonoridades dos enormes contrabaixos acústicos, idêntico ao dos instrumentos do gênero, mas sem a caixa acústica, o que facilita o translado na turnês — "mas com o braço, tocabilidade, as cordas e o som praticamente idênticos ao resultado de um instrumento acústico", reforça. Ele também usa um contrabaixo de seis cordas Yamaha TRB 6-P, além de um outro vertical MS feito por um luthier norte-americano. 

Foto: Pablito Diego

Stanley Jordan e Dudu Lima abrem o show com um dos temas mais formidáveis já escritos — autoria dos irmãos Borges, Lô e Márcio, além de Milton Nascimento. "Clube da Esquina 2", uma das peças instrumentais do álbum que consagrou a música mineira na década de 1970. A versão que ouvimos faz jus a sua grandeza. Logo após, já com participação de Leandro Scio (bateria) e Caetano Brasil (clarinete e sax), "Nada Será como Antes" (Milton Nascimento/ Ronaldo Bastos) segue a onda do Clube da Esquina. Mesmo que a versão muitas vezes priorize mais a performance do que o tema, a proficiência e o entrosamento do quarteto é um dos pontos altos da execução, principalmente por uma visão musicista. 

Em vídeo: "Clube da Esquina" e "Stairway to Heaven" (créditos: Douglas Torraca). 
 
 

Após revisitarem Johann Sebastian Bach em "Jesus Alegria dos Homens", a apoteose vem com a conhecida versão de Jordan para "Stairway to Heaven", do Led Zeppelin, gravada no álbum "Flying Home" (1988), um indiscutível sucesso em seus shows, abrindo a janela para o cruzamento entre o rock e o jazz. A despedida traz "Regina", composição de Dudu Lima, frequentadora assídua dos setlists da dupla. 

Setlist

Clube da Esquina 2

Nada Será como Antes 

Jesus Alegria dos Homens

Starway to Heaven 

Regina

Foto: Pablito Diego

Foto: Pablito Diego

Foto: Pablito Diego


Nenhum comentário:

Postar um comentário

ÚLTIMA COBERTURA:

JOSS STONE — BELO HORIZONTE, 22 DE SEMBRO DE 2024

Foto: Romero Carvalho | Por Romero Carvalho | Não é segredo para quem acompanha o nosso podcast “Quando o Som Bate no Peito”, que voltará n...