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Shy Perry. Foto: Camila Gonçalves |
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Review Márcio Grings Fotos Pablito Diego (Há Cena) e Camila Gonçalves (Grings Tours)
Numa corrida de Fórmula 1, quando a chuva surge em meio a uma prova decisiva, as estratégias da competição são alteradas durante a competição. Da mesma forma, quando São Pedro resolve abrir as comportas do céu e simplesmente um mundo desaba sobre o Mississippi Delta Blues Festival (Caxias do Sul - RS), é preciso fazer algumas escolhas. Uma dessas triagens a própria organização do festival se encarrega de protagonizar: o cancelamento de shows no palco mais charmoso do evento - o Front Porch Stage, ou a 'Casinha do blues'. E se ficamos ilhados sob a proteção dos espaços cobertos dentro dos cinco palcos restantes, só nos resta definir esse método de cobertura. Mesmo que fique uma sensação de que nossa equipe está chorando de barriga cheia, o lance é o seguinte - ou você se molha nesse deslocamento, ou se resguarda e escolhe os shows a assistir. Desse modo, assim como na 10° edição do MDBF, a chuva causou vários aborrecimentos para público, artistas, equipes de cobertura e organização. No entanto, sorte de todos nós que estivemos lá, testemunhas de uma nova noite histórica para os amantes do blues reunidos na Serra gaúcha.
Confira o review da 1ª noite (22/11/18)
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Foto: Camila Gonçalves |
2º dia começa, e logo de cara no palco Flea Market, os cariocas da Laranjeletric mandam brasa na mistura de standards do blues com temas do seu recentemente lançado álbum homônimo de estreia. Rumo ao Front Porch Stage, pois lá está o quarteto Headcutters (SC), preparando o terreno para uma das grandes atações do evento, o baixista, cantor e compositor Bob Stroger. E quando Stroger abre a porta da Casinha e sob efusivos aplausos diz: "Welcome to my house", sabemos que o velho
bluesman de 87 anos não está jogando conversa fora. Ele é convidado vitalício e embaixador oficial do evento, e não apenas isso. Com serviços prestados a nomes como Otis Rush, Jimmy Rodgers, Eddie Clearwater, Snooky Pryor. Pinetop Perkins, Carey Bell, entre dezenas de outros músicos, é uma poucos sobreviventes de uma época de ouro do gênero.
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Bob Stroger. Foto: Camila Gonçalves |
Stroger começa suas apresentações da forma mais apropriada possível, com "They call me Bob Stroger", um cartão de visitas musicado. Em primeiro lugar, quando perguntarem a você, qual banda poderia nos representar em algum evento de blues na Gringolândia, aposte suas fichas no Headcutters. Na formação, Joe Marhofer (harmônica e voz), Ricardo Maca (guitarra e voz), Arthur 'Catuto' Garcia (baixo) e Leandro 'Cavera' Barbeta (bateria), fornecedores de todo o lastro para que o norte-americano realmente se sinta em casa. Trata-se de um time que representa o legado do Chicago Blues. De chapéu, num terno elegante verde, abotoaduras personalizadas, brinco na orelha esquerda, repleto de penduricalhos e com o traquejo dos grandes nomes do gênero, eis um autêntico cidadão da música de Chicago. E quando o artista norte-americano abre a boca e canta temas como "Honey Rush" e "Let the good times roll", temos a certeza de que estamos frente a uma das vozes autênticas da música negra.
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Bob Stroger + Headcutters. Foto: Camila Gonçalves |
Nos breves intervalos dá pra ouvir o som que vaza do Magnolia Stage, por lá Etiene & The Black Souls, uma das pratas da casa surgidas de dentro do ventre do MDBF. Como sair da Casinha e ir até lá? E quando Catuto entrega seu baixo para o veterano
bluesman, o som que ouvimos ressuscita os fantasmas aprisionados nos velhos discos de vinil. Em "Key to the highway", Bob caminha entre o público, ganha beijo das meninas, olha nos olhos de cada um de nós e parece não ter pressa de terminar a canção, mesmo que os primeiros pingos de chuva comecem a brotar do céu cinzento de Caxias.
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Casquilho e Otávio Rocha. Foto: Pablito Diego |
A passos largos, pois a chuva começa a cair ainda mais forte, rumo ao palco Hopson, pois André Casquilho, vocalista da saudosa banda Baseado em Blues, se apresenta ao lado do Blues Groovers - Otávio Rocha (guitarra), Cesar Lago (baixo) e Beto Werther (bateria e voz de apoio). No repertório, temas como "Joe", "Darling" e "Quanto mais alto", faixas do álbum solo de estreia do vocalista. Ainda no pacote, standards do gênero - "Woman across the river" (Freddie King), "Hard Headed" (James Cotton), "I'd Rather Go Blind" (Etta James), "Black cat bone" (Albert Collins), além de clássicos do blues nacional como "Safra de 63" (Blues Etílicos), "Madrugada blues" (Baseado em Blues) e "Genuíno pedaço de Cristo" (André Christovam). O grande barato da apresentação é constatar que ao mesmo tempo em que bebe na raiz gringa, Casquilho não tem medo de se contagiar pelos ingredientes do nosso idioma musical. Há um resgate não apenas do blues feito aqui, mas também do soul brasileiro (no timbre da sua voz), e do próprio vocabulário cultural do rock/blues aclimatado no Rio de Janeiro. Destaque para um dos melhores guitarristas desse país, Otávio Rocha, que independente do projeto ao qual esteja envolvido, sempre brilha com seu talento e performance.
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Casquilho. Foto: Pablito Diego |
Nesse momento a chuva desaba sob Caxias do Sul.
Ao chegar no Magnolia Stage, lotado de gente, uma das principais atrações nacionais começa seu show. O grande anticlímax é ver Angela Ro Ro acompanhada apenas do tecladista Ricardo McCord, um de seus companheiros de composição há cerca de três décadas, mas sem uma banda de apoio. Teclado com programação eletrônica ao estilo de uma apresentação de artista local em churrascaria, ainda mais num dos importantes palcos do MDBF, é algo que não esperava encontrar no evento. Se essa é uma escolha da cantora, perdão Miss Ro Ro! Com esse vozeirão e uma banda como suporte, certamente teríamos uma receita de sucesso rumo a uma das grandes apresentações da Shack Edition.
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Angela Ro Ro. Foto: Camila Gonçalves |
Porém, excluindo canções em que esses arranjos desnecessários foram utilizados, Angela deságua talento. Seja no abecedário da canção popular norte-americana (All of Me e Night & Day), mas principalmente no seu repertório, músicas como "Portal do amor" (apequenada pela programação eletrônica), "Simples carinho" (João Donato), "Escândalo" (Caetano), e composições como "Nossos enganos" e o grande sucesso de sua carreira, "Amor meu grande amor". No bis, Angela Ro Ro canta a música que Cazuza fez especialmente para ela, "Malandragem". E Angela, que no próximo mês de dezembro completa 69 anos, estava de ótimo humor, brincando com o público e o tempo todo fazendo traquinagens com McCord. De todo o modo, foi especial vê-la em boa forma e cantando tão bem.
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Angela Ro Ro. Foto: Pablito Diego |
Com shows cancelados no Front Forch, único palco descoberto do local, e embretado no Magnolia em virtude do caldo que continua rolando desenfreado direto do céu de Caxias, vejo apenas uma música do show de Fred Sunwalk & the Dog Brothers, rapaziada que há mais de vinte anos circula pelos principais festivais de blues do país. Em 2017, Sunwalk participou de um tour nos Estados Unidos acompanhando a saxofonista norte-americana Vanessa Collier (que toca neste sábado no MDBF). Vi de perto a versão do grupo para "You can't always get what you want" (Rolling Stones), com direito a coro em uníssono da plateia. Logo depois, para êxtase do público que lotava o Hopson Stage, Otávio Rocha (guitarra) e Vanessa Collier (saxofone) fazem participações especiais na apresentação de Sunwalk. Delírio geral da nação MDBF.
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Otávio Rocha, Vanessa Collier e Fred Sunwalk & the Dog Brothers. Foto: Pablito Diego |
De volta ao Magnolia, novo encontro marcado com Shy Perry, que depois da participação como integrante da banda do pai, Bill Howl-N-Madd Perry, faz seu debute solo no festival. A cantora acaba de lançar "Brand New Day", um bom álbum de estreia. No MDBF, além de menina Shy no teclado (o utilizando praticamente na função de baixo), a banda base conta com Bruno Marques (guitarra) Villagram Lisboa Bello Neto (bateria), com Nico Fami tocando baixo na parte final. E claro, Howl-N-Madd na guitarra base. Ela começa o show com "Wang dang doodle”, principal cavalo de batalha de Koko Taylor, e uma música que paga tributo a uma de suas musas inspiradoras.
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Shy Perry. Foto: Pablito Diego |
O restante do repertório fica por conta das canções de "Brand New Day", temas como a faixa título, "Don't you worry", "Beat the heat" e "Have fun". E como não ficar de olhos vidrados com a performance de Shy frente ao seu teclado? É divertido vê-la movimentando o corpo esguio a cada intervalo entre as frases das canções. Voto em Shy Perry como grande musa da edição 2018 do festival. Ao final, mais uma palinha da performance Crowns, a cargo das bailarinas Karine Silva, Laysa Borges dos Santos e Uyara Camargo, com coreografia de Paula Giusto.
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Shy Perry. Foto: Pablito Diego |
Com os tênis ensopados e ainda molhado pela contínua precipitação, somos surpreendidos quando Ian Siegal surge sem anúncio no Hopson Stage. O britânico toca apenas um música... E que som! "Mary don't you weep", em versão voz e violão/slide. Siegal é um daqueles músicos que não precisam mais de que um violão para provar seu talento. Promessa de show imperdível na noite seguinte na Casinha. Na sequência, vejo o início da apresentação do indiano Aki Kumar, desossando sua harmônica diatônica.
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Ian Siegal. Foto: Camila Gonçalves |
Certamente a chuva foi a grande vilã da segunda noite, no dia seguinte (neste sábado, 24) ficamos sabendo (via Flávia Vidor, uma das responsáveis pela assessoria do evento), que a cantora norte-americana J.J. Thames, com show cancelado pela chuva no Front Porch, acabou fazendo uma apresentação fora do cronograma do Magnolia. Assim como Bob Storger & The Headcutters encerraram a noite no Mississippi Stage. Novamente passaram batido uma série de atrações legai como TNG Duo, Fabrício Beck & Bando Alabama, Muralha Trio e Trash Pand Creek que deu bis no Flea Market.
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Ali kumar. Foto: Pablito Diego |
Início de tarde de sábado, ainda chove muito em Caxias do Sul. Nossas orações para que a chuva dê trégua e não coloque água no nosso chope. Noite de ver (rever) Bob Stroger, Ian Siegal, Trash Panda Creek, Gallie, Zé Pretim, André Casquilho & Blue Groovers, Fran Duarte, Jess Condado & Natacha Seara, Cláudia Sette e Lennon Z.
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Foto: Camila Gonçalves |
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