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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

MISSISSIPPI DELTA BLUES FESTIVAL 2014 - 1ª NOITE, CAXIAS DO SUL, 20 DE NOVEMBRO

Um dos melhores momentos da noite de quinta-feira: Larry McCray e Lazy Lester. Fotos: Fabiano Knopp
A sétima edição do Mississippi Delta Blues Festival começou nesta quinta-feira (20) no Largo da Estação Férrea, em Caxias do Sul (RS). Em minha primeira vez no MDBF, as impressões são as melhores possíveis. Todos os espaços e eventos são tratados com extrema coerência e organização. Nunca fui em nenhum festival de blues nos Estados Unidos, mas a sensação é que não estamos numa cidade brasileira, mas sim num novo país chamado Bluesland. Além dos shows, várias atividades paralelas movimentam o amplo espaço que toma conta do antigo complexo ferroviário local. Workshops, tour gastronômico musical, pocket shows solidários, leilão silencioso, várias opções de alimentação que nos fazem concluir que estamos num verdadeiro parque de diversões para amantes dos amantes da música.


Saiba como foi a segunda e a terceira noite do MDBF

Chegando no festival:

Um dos recortes bonitos do início do MDBF. O dueto entre Fran Duarte e Bob Stroger. Foto: Fabiano Knopp
Em primeiro lugar, num festival aonde tudo acontece em seis palcos, – muitas vezes (quase ou) simultaneamente – não dá pra mosquear, ou você deixa de ver algo que irá se arrepender amargamente por ter passado batido. Durante o final da tarde, caiu um toró em Caxias! A precipitação que começou a despencar logo depois das 17h, encorpou o caldo até próximo das 18h, emprestando ares dramáticos ao entardecer. Chegamos ao complexo da Estação Férrea mais ou menos nessa hora, eu e o fotógrafo Fabiano Knopp. 

Marina Garcia. Foto: Fabiano Knopp
18h50min, a chuva ainda afastava o público da proximidade do Magnolia Stage, palco onde passam as atrações femininas do evento. Enquanto isso, a porto-alegrense Marina Garcia ia aquecendo a garganta e os primeiros visitantes do MDBF 2014.

No repertório, standards como “You Got Me Running”, “Tulsa Time” e “Sweet Home Chicago”. Ao lado da cantora, uma boa banda que segura forte o inteligente repertório que se mostra confiante na voz firme de Marina que parece ter afastado a chuva com suas músicas.

Álamo Leal. Foto: Fabiano Knopp
Enquanto isso no All Aboard Stage, a rapaziada da Pacífica 22, abre um dos palcos com mais cara de blues, enraizado na centenária plataforma de desembarque da Estação Férrea de Caxias. Numa cruzada rápida, vejo uns três sons de Álamo Leal, músico carioca que morou por décadas na Inglaterra. Na inauguração do Folk Stage, ouço uma honesta versão voz e violão de “How Long”, de Leroy Carr. “O mais autêntico bluesman do país”, afirma o músico e jornalista Tomás Seidl, integrante da comissão organizadora do evento.

A casinha. Foto: Fabiano Knopp
O patrono do festival:

No Main Stage, após uma irreverente e curta solenidade de abertura de Rafa Gubert (pô, mas o festival já não tinha começado?!), a atração local Fran Duets inicia os trabalhos no palco principal do evento. Fran Duarte têm todas as manhas, traquejos e dinâmicas que fazem dela uma grande cantora. Destaque para o dueto com Bob Stroger em “Sweet So Sweet”, onde o veterano nos dá uma avant-première do que está prestes acontecer.


Bob Stroger. Foto: Fabiano Knopp
E eis que o Front Porch Stage fumega suas luzes. A “casinha”, como é carinhosamente chamada por todos, reprisa a atmosfera dos lendários casebres do Mississippi nos meados da primeira metade do século XX, e é disparado meu palco favorito. E da varanda do casebre, a espécie de Patrono vitalício do MDBF, o baixista e cantor Bob Stroger, que toca pela quarta vez no festival, nos avisa de cara: “Welcome to my house. This is my house”. Olhar para Stroger, e visualizar um arquétipo do gênero. Vestido de forma impecável com sua camisa bordô, colete preto, broches e penduricalhos dourados no peito.

A guitarra de Caetano, porém não o filho de Dona Canô. Sou mais esse cara. Foto: Fabiano Knopp
Completa o visual, seu chapéu, brinco, pulseira e anéis, botas de caubói, enfim, – uma beca impecável que dá peso e uma elegância invejável a sua figura. E eis que chegamos ao ponto mais importante: a performance no baixo atesta por que o veterano levou pra sua estante o Blues Music Award, como melhor baixista de 2013. Olhar para o músico norte-americano (e ouvir seu instrumento) é uma prova de como um baixo deve soar no blues. Destaque para a banda que acompanha Stroger, os incríveis The Head Cutters, rapaziada de Itajaí, Santa Catarina, que recentemente voltou de uma trip nos Estados Unidos. Poucas bandas brasileiras podem soar tão autênticas.

A ex-participante do The Voice Brasil, Dani Montuori. Foto: Fabiano Knopp

Pausa na casinha, enquanto Stroger recebe os fãs e autografa CDs, faço um lanche rápido e dou mais uma girada pelo complexo do festival. No Main Stage, ouço de longe a Lucille Band. Percebo que algo acontece no Magnolia Stage. Lá está o nosso fotógrafo. Knopp registra o show da cantora paulista Dani Montuori (ex-participante do The Voice Brasil) que embala releituras de Koko Taylor, Al Green, Muddy Waters, entre outros.

Ainda Stroger:

De volta ao meu local preferido da noite, Stroger segue o bailinho com músicas como “Key to The Highway”e  “Let The Good Times Roll”. Nesse momento o show ganha a participação de Décio Caetano. Um pena que o instrumento do músico paranaense estivesse com o volume um pouco baixo, mas nada que nos impedisse de ouvir o som de um dos melhores guitarristas de blues do país. Essa sensação que estou frente a frente com uma gema autêntica do gênero, no caso essa figuraça chamada Bob Stroger, havia acontecido pela última vez dois anos antes, no show de Buddy Guy, no Bourbon Country, em Porto Alegre. Stroger é um perfeito anfitrião. Conversa muito entre as músicas, passeia pela frente do palco, joga seu charme no público feminino, dança e enfeitiça sua audiência, nunca deixando de nos lembrar em diversos momentos do show: “This is my house!”.

Greg Wilson, Blues Etílicos. Foto: Fabiano Knopp
Blues Etílicos:

Bob encerra sua apresentação e já ouço o anúncio de que o Blues Etílicos está ok no Main Stage. No setlist, prioridade nos temas em português: ‘Puro Malte”, “Cerveja” e “H2O”, música do projeto paralelo de Greg, o Macabu. Lindo ver ao vivo canções como “Espelho Cristalino” (versão de um sucesso de Alceu Valença), um dos destaques do último disco da banda lançado em 2013.

Bedran, Wilson, Strasser e Guimarâes. Foto: Fabiano Knopp
Essa foi a quarta vez que assisti a banda carioca, quinteto pioneiro do blues no país, e talvez tenha sido a que menos me emocionou. A sensação é que o som ao vivo do grupo está mais pesado, mais próximo do rock (não que isso seja algo negativo). Senti falta de ouvir canções como “Misty Mountain”. De todo o modo, sempre bacana sacar de perto a dobradinha das guitarras de Otávio Rocha e de Greg Wilson, além do inegável talento do gaitista Flávio Guimarães.

Nada de setlist com Lazy Lester. Foto: Fabiano Knopp
Voltando pra a casinha, de cruzada pelo All Abord Stage pego alguns minutos de Rola Stones, banda que reprisa há vintes anos o repertório dos Rolling Stones. Chegando no Front Porch Stage, Lazy Lester já está no palco pronto para sua primeira apresentação no MDBF. E eis que ao seu lado vejo o guitarrista Larry McCray. Esse é um dos lances bacanas do festival, como muitos dos artistas já estão na cidade, o que impede deles darem canjas nas apresentações um do outro? McCray toca neste sábado (21), mesmo palco aonde aparece de surpresa. Não resisto e faço uma foto com meu celular. Bem próximo a eles, dá pra perceber que McCray quer saber de Lester qual será o repertório. O gaitista parece completamente despreocupado com isso, e dá a tônica da apresentação: o improviso.

Um dos gigantes da guitarra blues, Larry McCray. Foto: Fabiano Knopp
Pobre do trio que os acompanha. E o mais interessante no show de Lester é que o veterano do blues visivelmente trabalha sem setlist mesmo! Ele conversa, brinca e sorri o tempo todo, e assim vai trocando figurinhas com McCray e mandando ver em temas como "Sugar Coated", “Big Boss Man” “That’s All Right” e até surpreende ao tocar canções mais vinculadas ao country, como “Blue Eyes Crying in The Rain”, de Willie Nelson. Quando a banda erra o andamento, ele não exita: “Stop, stop stop”. Só então eles recomeçam seguindo a receita proposta pelo chefe das ações naquela noite. O velho Lazy também mostra seu estilo simplista e descomplicado de tocar guitarra, arrancando sorrisos de McCray. Foi uma das melhores aulas de blues que assisti. Espero que repitam a dobradinha na apresentação de McCray.

Lazy Lester e sua harmônica. Foto: Fabiano Knopp
Fim de noite, pelo menos pra mim:

E eis que depois de uma longa maratona de quase oito horas, tiro o time de campo ao som das Clusters Sister, atração final da noite de quinta no Magnolia Stage.  Não consegui assistir Nei Van Sória no Main Stage e outros tantos em mais dois palcos que mal dei uma conferida. Esse é um dos lances frustrantes do MDBF: é impossível ver tudo. Nesta sexta-feira, 21 de novembro, noite de ver a britânica Bex Marshall (que deu show de figurino a lá Ma Rainney passeando e dando entrevistas), Jai Mailano, Robert Bilbo Walker, Larry McCray, entre outros. 



Os copos do MDBF. Foto: Fabiano Knopp



Destaque negativo:

Como fui credenciado pela imprensa, acabei não levando o copo do festival. Ao tentar adquirir o meu exemplar, fui jogado de um lugar ao outro sem sucesso. Uma cadeia de desinformação que acabou me aborrecendo (atenção comissão organizadora do MDBD 2014. Provavelmente mais pessoas estejam em busca dos copos, que novamente ficaram muito bonitos). Acabei ganhando de presente um copo do Blues Etílicos. Obrigado pela cortesia, Flávia Vidor (UCS FM). Mas que fique claro: – esse é um só um ínfimo chororô de uma noite estupenda, que não macula em nada a excelente organização de um dos maiores festivais de blues do continente.

Todos querem fazer seu registro no MDBF


Um excelente público prestigiou a primeira noite de festival.


Front Porch Stage.


Vários ambientes compõem o complexo do festival.


Essa é pra quem curte o universo do skate.


Ao fundo Bob Stroger, o a patrono do MDBF.


Wilsom, o mais carioca dos americanos.

Main Stage.

Otávio Rocha, Blues Etílicos.

Bluesland, um parque de diversões que tem até roda-gigante.

Lazy Lester, mestre no improviso.

Larry McCray e Lazy Lester muito próximos do público.

Feeling the blues.

A guitarra tem um dono.

A talentosa cantora porto-alegrense Marina Garcia.

Dani Montuori. De São José dos Campos, SP, para o palco do MDBF, em Caxias.


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