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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

AEROSMITH – PORTO ALEGRE, 11 DE OUTUBRO DE 2016

Fotos: Ericson Friedrich



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Por Márcio Grings Fotos Ericson Friedrich

De acordo com os relatos de quem esteve na primeira passagem do Aerosmith pelo Rio Grande do Sul, em 2010, no Estacionamento da FIERGS, problemas técnicos e o local escolhido para a apresentação ofuscaram o brilho do evento. Sete anos depois, estamos salvaguardados, pois o show acontece no Olimpo dos grandes espetáculos — Gigante da Beira-Rio, em modelo reduzido de anfiteatro. E o Rock’n’Roll Rumble Tour desembarca por aqui, revirando os primórdios do grupo nos anos 1970 e revisitando seu retorno nos anos 1980.  E mais: cirurgicamente elenca os hits que conhecemos de cor. Para quem chegou cedo, próximo ao horário da abertura dos portões, foi possível ouvir a longa passagem de som de Steven Tyler, Joe Perry, Brad Whitford, Tom Hamilton e Joey Kramer. O clima de show se instala numa bonita tarde de primavera, e, enfileirados em frente aos portões de acesso, os fãs escutam algumas pistas do que viria logo mais. Destaque para a passagem de som com “Kings and Queens”, repetida várias vezes pelo quinteto até o aprumo final. Do lado de fora do Beira-Rio, ouvíamos tudo. Foi um belo aquecimento. 


Confira ÁLBUM DE FOTOS por Ericson Friedrich

Pouco antes do início das ações, enquanto os técnicos fazem os últimos ajustes e os músicos se posicionam, o alvoroço da audiência é ruidoso. Ainda com as luzes apagadas, a voz de Muddy Waters ecoa pelos alto-falantes em “Mannish Boy”, conexão direta com “Back in the Saddle”. A faixa 1 do Lado A de “Rocks” (1976) é o aviso de que os anos iniciais do Aerosmith cravam as unhas na turnê Rock’n' Roll Rumble. Há certa tensão na cozinha de Hamilton e Kramer, com Whitford e Perry amplificando essa sensação em suas guitarras, o que proporciona uma cama para as metáforas sexuais: “I'm ridin', I'm loadin' up my pistol”. Nessa cavalgada como caubói do asfalto, “Back in the Saddle” representa uma ode à libertinagem perpetrado nos bramidos de Tyler: “I'm ridin', this snake is gonna rattle”. Ele canta toda a música na extensão frontal do palco que o leva até o meio do público. Como um dervixe cheio de penduricalhos, os cabelos longos e grisalhos esvoaçam frente aos ventiladores. Joe Perry está ao seu lado, os Toxic Twinsem carne e osso, para, logo após, o botão turbo ser acionado em “Love in an Elevator”.

Foto: Ericson Friedrich

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Seletadas de “Get a Grip” (1993), a chapa esquenta ainda mais em “Cryin” e “Crazy”. Já “Kings and Queens”, melhor faixa de “Draw the line” (1977) e tema desaparecido há dois anos do setlist, é a grande surpresa da noite para os que não ouviram o ensaio geral da tarde. A lembrança do vinil girando no meu toca-discos Philips é reavivada quando a ouço, pela enésima vez naquele dia, conforme o spoiler de horas antes. Steven Tyler a canta assombrosamente bem. Escolha sua melhor performance... ele está endemoniado! O megahit “Livin’ on the Edge” é prova viva dessa vitalidade e nos alerta sobre o status quo: “There's something wrong with the world today / The light bulb's getting dim / There's a meltdown in the sky”. A lenha pesa em “Rats in the cellar”, mais uma de “Rocks”, para logo depois ouvirmos “Dude (Looks like a Lady)”, uma das canções que marcam o ressurgimento do Aerosmith em “Permanent Vacation” (1987). “Same Old Song and Dance” abre com um dos melhores riffs de Joe Perry, terreno pedregoso onde o Aerosmith pisa. Já “Monkey on My Back” certifica a luta, a virada de chave de Steven Tyler e seu grande triunfo no final daquela década, quando finalmente ficou livre das drogas pesadas.

Foto: Ericson Friedrich
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Em “Pink”, de “Nine Lives” (1997), o vocalista recebe um boá rosa como emblema artístico de apoio ao “Outubro Rosa”, e o laço símbolo da campanha sobre prevenção do câncer de mama é projetado no telão. “Rag Doll”, mais uma de “Permanent Vacation”, parece deliciosamente envelhecida, como se viesse dos anos 1970, culpa do enredo alquímico das guitarras. Buck Johnson (Hollywood Vampires, The Doobie Brothers), músico de apoio do Aerosmith desde 2014, está nas teclas e vocais de apoio.  A releitura de “Stop Messin’ Around” (Fleetwood Mac) é o momento em que Perry assume a voz principal e oferece um refresco para Tyler. Bem-humorado, o guitarrista aparece no telão junto ao Monumento do Laçador, um dos símbolos da capital gaúcha, local onde registrou imagens no dia anterior.

“I Don’t Want to Miss a Thing”, canção escrita por Diane Warren (endereçada à Celine Dion, acreditem!), está em casa com o Aerosmith, e o mesmo pode ser pressentido na releitura de “Come Together”. A levada de bateria de Joey Kramer é o engana bobo para um dos maiores sucessos do Aerosmith nos anos 1970, a libidinosa homenagem a uma cheerleader[1] em “Walk this way”, de “Toys in the Attic” (1975). Aqui, agora, tudo estremece, e a turba se eleva com esse pré-rap que renasceu com a releitura do Run DMC.  O cover de “Train Kept a-Rolling”, número que ganhou fama com o Yardbirds nos anos 1960, confirma a natividade do grupo em elevar o blues à potência máxima. Breve intervalo, e Steven Tyler retorna ao palco como pianista, de volta a uma das zonas mais frequentadas da noite, na extensão frontal que o deixa no meio do público. Ele toca a música que lançou a banda em 1973. É incrível, mas “Dream On” ainda brilha como tinta fresca, sintonizada com o cânone das baladas e do hard rock. O piano man de ocasião é tomado por luzes róseas e sobretons azulados, e você imagina de onde talvez tenha surgido a inspiração de Axl Rose para fazer algo parecido em “November Rain”.

Foto: Ericson Friedrich



Rosto de boneco de cera, olhar travado, uma efígie que naquele instante corporifica o rosto e o olhar petrificado do Dr. Emmett Brown. É Tom Hamilton que lentamente caminha pelo palco com um baixo azul, cruzando o som gelatinoso de seu instrumento com o talk box da guitarra de Perry. É como se o bordão fosse proferido: “Super Gêmeos, ativar!”; a mágica acontece, e a audiência ondula em Sweet Emotion”, uma das canções mais emblemáticas do Aerosmith, máquina do tempo que nos leva direto ao melhor do rock dos anos 1970.  Ao final, estamos envoltos numa nuvem artificial que precipita sobre nós uma chuva de papel picado. Fico com a sensação de que talvez estejamos vendo o grupo norte-americano pela última vez. Em recentes entrevistas, Steven Tyler anunciou que o grupo fará uma turnê de despedida em 2017. Quem viver verá.
 
 Foto: Ericson Friedrich
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Foto: Ericson Friedrich


Foto: Ericson Friedrich






Tyller lançando a harmônica em direção ao público. Rápido no gatilho, esse é nosso fotógrafo Ericson Friedrich! 
Foto: Ericson Friedrich
 Foto Ericson Friedrich
Foto (celular): Márcio Grings

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