Cultivar expectativas não é muito a minha praia. Essa é uma postura que aprendi e procuro seguir, sempre que possível. Quando entro na Arena do Grêmio, em Porto Alegre, na noite de 11 de novembro de 2017, eu sei que estou prestes a assistir uma das turnês mais aclamadas pela crítica na atualidade, a "A Head Full of Dreams Tour", da banda britânica Coldplay. De todo o modo, nem de longe eu poderia imaginar tudo o que viria pela frente nas próximas duas horas. Na verdade, eu não tinha ideia da grandiosidade do espetáculo. E esse é o grande lance de segurar a curiosidade e não navegar na rede em busca das apresentações anteriores. O meu prêmio foi o total arrebatamento.
|
Foto: Ton Muller |
Já na chegada, ao passar pela catraca, um artefato estranho é colocado no meu pulso. Trata-se da “Xyloband”, pulseira com luzes de led controladas por ondas de rádio e inventada por um fã da banda, Jason Regler. O acessório foi usado pela primeira vez na Mylo Xyloto Tour, em 2011 e 2012. Depois, foram cerca de 30 minutos de espera pelo show. Marcado para às 21h, o concerto inicia com 17 minutos de atraso, tempo aceitável para aquela estrutura toda. De repente, as luzes se apagam e o estádio inteiro ouve a voz de Maria Callas no tema “O Mio Babbino caro”, trecho mais conhecido da ópera "Gianni Schichi", de Giacomo Puccini. Não sei definir exatamente o que sinto nessa hora. Mas naquele instante tenho certeza: vai ser emocionante!
|
Foto: Ton Muller |
E foi. Foi muito mais. Foi tanto, que estar presente nessa primeira vez do Coldplay no RS, e ainda meio zonza pelo espetáculo de som e luzes, não consigo encontrar uma palavra ou frase adequada para definir o
mise-en-scène visual/sensorial que presencio na noite deste sábado. É provável que eu e grande parte das outras 59 mil pessoas (número oficial divulgado pela produção do show) tenhamos esse sentimento. As luzes explodem no palco e eu finalmente entendo a magia da Xyloband no meu pulso. Milhares de pontos luminosos acendem em todos os setores, alternando e misturando cores, tornando a Arena do Grêmio num lugar mágico, encantado pelo poder da música. Começa a tocar “A Head Full of Dreams”, música que abre e dá nome ao sétimo álbum de estúdio da banda. Nas cadeiras (setor em que estou), ninguém mais permanece sentado.
|
Foto: Ton Muller |
A partir daí, um desfile de hits segue sem que a plateia tenha tempo para respirar. O primeiro deles, “Yellow”, já me faz entender porque estou ali. Nunca fui grande fã e conhecedora do Coldplay, mas durante o tempo em trabalhei em rádio, tocávamos (e tocávamos muito) essa canção. E se a não a rodasse durante meu horário, sempre algum ouvinte ligava e pedia. De todo modo, sempre achei que "Yellow" combinava com a programação matutina. Os dois primeiros versos me parecem de uma candura tão linda: "
Look at the stars / Look how they shine for you". Eu mesma já os utilizei em uma matéria que escrevi recentemente. Ainda durante "Yellow", o vocalista Chris Martin dá seu primeiro recado: "
Boa noite, gaúchos. Estamos muito, muito felizes de estarmos aqui, em Porto Alegre. Muito obrigado!”, em português com sotaque britânico. Chris Martins é um bom guri.
|
Foto: Ton Muller |
Na sequência, ainda no palco principal, vem "Every Teardrop Is a Waterfall", "The Scientist" (minha favorita), além de "Birds" e "Paradise", uma sequência de hits que deixa o público em total sintonia com o espetáculo. E então sou surpreendida por uma das grandes sacadas da turnê: a alternância de palcos. Sim, temos o principal (Palco A), o Palco B – menor, circular e que se estende até a plateia, ligada ao principal por um longo corredor – e o Palco C – esse sim, bem pequeno e situado à direita do palco principal, literalmente no meio da galera. Para entender melhor, abaixo no setlist completo, você confere essa alternância.
|
Foto: Ton Muller |
É inegável o carisma de Chris Martin. Se comunicando o tempo todo com a plateia, a maioria das vezes em inglês, mas novamente falando num português compreensível, o vocalista é extremamente simpático. Pede amor, alegria, enaltece as pessoas que viajaram centenas de quilômetros para estarem ali, desculpa-se pelo alto preço dos ingressos (salgados!), discorre sobre o amor ao Brasil e passa a certeza de que está muito à vontade em nossa casa
. Frente ao estrelato de Martin, Guy Berryman (baixo, sintetizadores e gaita), Jonny Buckland (guitarra, violão e sintetizadores) e Will Champion (bateria, percussão e piano), muitas vezes ficam ofuscados de suas virtudes como copresponsáveis pelo sucesso da banda, de todo o modo, mesmo que na posição de coadjuvantes (de luxo), fornecem todo o combustível e tranquilidade para que o
frontman se comunique com a plateia. E isso acontece o tempo todo.
|
Foto: Ton Muller |
Grandes momentos chegam com "Fix You" e "Viva La Vida". Me sinto privilegiada em presenciar as primeiras audições de "Life is Beautiful", número ainda inédito que possivelmente esteja em algum futura lançamento discográfico da banda. A música paga tributo inspirada aos cânticos das torcidas britânicas nos estádios de futebol. Algumas surpresas ainda estariam por vir durante o show. A explosão de fogos de artifício, a chuva de papel picado (pelo menos para quem estava distante do palco, como eu, parecia ser “só” papel picado, mas só depois vim a saber que se tratavam de borboletas e pássaros recortados em papeis coloridos) e as grades bolas, igualmente coloridas, que inundaram a plateia. Tudo isso faz da noite um mix de luz, energia e cores.
|
Foto: Ton Muller |
Foi ótimo assistir a passagem da "A Head Full of Dreams Tour" com a sensação de não ter feito o tema de casa. Foi bom ser surpreendida pelo trabalho de uma produção primorosa e dedicada, um verdadeiro espetáculo que permanecerá vivo na memória como um dos maiores shows que já assisti na vida, e que possivelmente esteja em um futuro DVD da banda, já que os shows no brasil foram gravados (incluindo o do Porto Alegre). Obrigada pela mensagem de amor e alegria, Coldplay. A primeira vez dos britânicos em solo gaúcho nos deixa com a sensação de que essa não será a última. Então, vivamos la vida!
Grings - Tours, Produções e Eventos (Santa Maria) e
Jamil Magic Bus (Passo Fundo) agradecem aos clientes e amigos que escolheram compartilhar experiências conosco. Até o próximo tour. Agradecimento especial ao fotógrafo Ton Muller.
Setlist Coldplay Porto Alegre:
Faixa incidental: O Mio Babbino Caro (Maria Callas)
Palco principal:
1. A Head Full of Dreams
2. Yellow
3. Every Teardrop Is a Waterfall
4. The Scientist
5. Birds
6. Paradise
Palco B:
7. Always in My Head
8. Magic
9. Everglow
Palco principal:
10. Clocks
11. Midnight
12. Charlie Brown
13. Hymn for the Weekend
14. Fix You
15. Viva la Vida
16. Adventure of a Lifetime
17. Amazing Day
Palco C:
18. Kaleidoscope (Parte 1: The Guest House)
19. Don’t Panic
20. In My Place (acústico)
21. Porto Alegre Song
22. Kaleidoscope (Parte 2: Amazing Grace)
Palco principal:
23. Life Is Beautiful
24. Something Just Like This
25. A Sky Full of Stars
26. Up&Up
|
Foto: Ton Muller |
|
Foto: Ton Muller |
|
Foto: Ton Muller |
|
Foto: Ton Muller |
|
Foto: Ton Muller |
Baita definição do que foi a noite....difícil digerir..não caiu a ficha...
ResponderExcluirNoite maravilhosa, show extraordinário!!!
ResponderExcluir