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quarta-feira, 8 de abril de 1998

BOB DYLAN - PORTO ALEGRE, 7 DE ABRIL DE 1998

Foto: Adriana Franciosi, Divulgação BD ZH - 7/4/1998
Por Márcio Grings Fotos: Adriana Franciosi 

Bob Dylan vive mais um de seus renascimentos artísticos. Apenas sete meses antes desse 7 de abril, noite em que o bardo norte-americano realiza sua segunda apresentação na capital gaúcha, "Time Out of Mind" ressoou como um trovão nas prateleiras, álbum que lhe rende mais três prêmios Grammy, incluindo o de Melhor Álbum - e mesmo trabalho que o coloca novamente da ciranda dos artistas que não vivem apenas sob a sombra de um passado glorioso. E certamente 'Out of Mind' não é apenas mais um X em sua extensa discografia.
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Divulgação Columbia
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"Ele quer que o disco seja “mais sentido do que pensado”, que seja “uma performance em vez de uma mera sacada literária”, está escrito no review publicado no site S&Y. De qualquer forma, as letras continuavam geniais, Standing In A Doorway, por exemplo, parece um filme: "Don't know if I saw you / If I would kiss you or kill you / It probably wouldn't matter to you anyhow / You left me standin' in the doorway cryin' / I got nothing to go back to now (Se eu encontrar você / Não sei se vou beijá-la ou matá-la / Provavelmente isso não lhe importaria / Você me deixaria na porta lamentando / E eu não tenho mais para onde ir).

"E Nesse trabalho Dylan veste a tradição com roupas contemporâneas, no que pode ser visto como um dos discos que marcam o fim do século XX", eis o tom da obra como foi dissecado no já citado S&Y. Basta a primeira frase de Love Sick – e o modo como o intérprete a canta – para sabermos que estamos diante de uma obra-prima: “I’m walking… Through streets that are dead (caminho pelas ruas mortas)”. Ele fala de amor, mas de um tipo amor cascudo onde as flores murcham, onde os buquês nunca são entregues e acabam sendo jogados em latas do lixo. E não é apenas o mérito do conteúdo escrito das canções, há sombra e luz entrecortando a interpretação, e isso resume o teor de excelência desse álbum. É um disco que fala da exiguidade da vida e que nos faz sentir o bafo da besta cafungando no cangote. E só então podemos concluir que, apesar de todos os 'bangornaços', ainda estamos vivos!

Esse é o espírito que ronda mais uma agradável tarde de outono em Porto Alegre, pouco antes do início da tão esperada segunda apresentação de Bob Dylan em terras gaúchas (a primeira passagem foi em agosto de 1991, no Gigantinho). Voltando um pouco no tempo, cerca de um mês antes, fiquei sabendo do show pela ZH. Pedi a um amigo para comprar o ingresso. Peguei um dos últimos: R$ 80,00 (o equivalente a U$ 100 hoje). Somente 1.600 ingressos foram colocados a venda. Um deles agora era meu. No total, somando os convidados da casa, cerca de 1700 estariam presente na noite histórica. Já no dia 7, acordo cedo, falto ao trabalho, não aviso em casa e praticamente sem grana no bolso (mas com o tíquete na carteira) soco algumas coisas na mochila e coloco o pé na estrada. Em Santa Maria, uma terça-feira cinza nis dá adeus, às 07h30min.
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Reprodução
A viagem de Santa Maria a Porto Alegre (cerca de 290 km) fica por conta do amigo Gustavo Toniolo. A seleção musical está montada numa fita k-7: ouvimos o possível set do show daquela noite, baseados nas duas últimas apresentações em Miami, na Flórida, realizadas poucos dias antes (informações da ZH). Soundtrack rolando no toca-fitas, nos bandeamos rumo à capital no carro de Toniolo, sendo que ele banca a gasolina, descola um apê para ficarmos, como também providencia todos os detalhes para que aquela noite seja inesquecível. 
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A estada em Porto Alegre é movimentada. Horas de expectativa que se encerram no bairro de Ipanema, a beira do Guaíba, embalados por drinques, bate-papos e uma daqueles pores de sóis de cartão postal. Estouramos no Opinião por volta das 20h - ‘Tava vazio... Pensamos que talvez estivéssemos nos enganado (noite ou bar errado?). Buenas, faltavam duas horas para o início da apresentação. Parecíamos ser os primeiros por lá. De qualquer forma, eu sempre gostei de chegar cedo aos meus encontros, mas... Logo depois o bar começa a lotar. Pergunto ao garçom: “Qual a sugestão da casa?”. “Frozen Margarita”, ele responde. Trata-se de um drinque a base de suco de limão, contreau e tequila; bate no valor de umas três cervejas. Sem hesitar acabo bebericando uma cerveja num copo de plástico. 
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Bem próximo a nós, vejo um senhor de terno e gravata com a cara do Moacyr Scliar. Além de pés-rapados como nós, tinha um bocado de gente famosa por lá: Vitor Ramil, Marcelo Nova, ouvi falar pela imprensa que lá também estavam João Bosco, a atriz Malu Mader, Toni Bellotto do Titãs, entre outros. Não que isso fizesse alguma diferença pra mim, mas o número de celebridades mostra como várias pessoas estão ligados nesse evento, um show exclusivo de Dylan no Rio Grande do Sul. Vale lembrar que essa é a única apresentação solo de Bob Dylan no Brasil em 1998, já que ele está fazendo o show de abertura para o atual tours dos Rolling Stones. Dylan abrindo para os Stones? Inacreditável! Vindo de Buenos Aires no voo VRG 933, no próximo final de semana, ele toca no Rio e São Paulo, dessa vez com ingleses. Aqui, apenas ele. E não foi fácil para a produção do Opinião Produtora encaixar essa apresentação entre a capital portenha e o centro do país.


Depois fiquei sabendo das negociações. Segundo dois Maurícios (Cardoso, que me contou a história pessoalmente, e Rigotto via conversa on-line) eles pescaram todo o lance com Alexandre Lopes, um dos caras que comandam a Opinião Produtora, e que é próximo de Marcelo Nova

E os Maurícios assistem ao show bem em frente ao palco, como convidados, numa mesa reservada para o líder do Camisa de Vênus e último parceiro de Raul Seixas. Nova está com Drake, seu filho de 5 anos. 

Atualmente, Bob Dylan geralmente não toca para um público inferior a cinco mil pessoas. A produção do cantor pediu uma relação de shows internacionais que já haviam passado pela casa até então, para checar se o local estava “a altura de Dylan”. Lopes mandou um fax e nessa lista estavam Deep Purple, Santana, Jethro Tull, Eric Burdon, Yes, Steppenwolf, John Mayall, entre outros. E o fax conclui a defesa com a seguinte frase: ”Se algum dia um artista pedir outra lista dessas novamente, escreverei apenas: Bob Dylan tocou aqui”.
Reprodução ingresso original. Cortesia: Maurício Cardoso

O custo do espetáculo fica em torno de cem mil dólares, e nas contas do realizador; a arrecadação da bilheteria pode no máximo empatar as despesas. Em resumo: o bar banca um show que sabe que teoricamente dá "prejuízo", mesmo se todos os ingressos sejam vendidos. Em troca desse esforço, claro, o eterno prestígio de ter realizado um evento com um nome de tamanha grandeza no rock'n'roll. E isso certamente abrirá portas para o Opinião. Ah, e ainda tem a busca de patrocínios para cobrir um seguro caríssimo, outra das exigências da produção norte-americana..

Atualização: para mais detalhes, leia entrevista com Alexandre Lopes AQUI
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21h53minutos (isso mesmo! sete minutos antes), movimentação no palco. Reconheço o andar capenga do baixinho de Minnesota. Os músicos se preparam, ouve-se um sonoro, rouco e profundo “Good Evening”. A banda dispara a todo volume To Be Alone With You numa versão novinha em folha, mais pesada, turbinada, tema que sempre foi um dos meus preferidos de Nashville Skyline (1969). "Is it rolling, Bob?", ainda não acredito. Dylan olha para o set grudado ao palco, entre Long Black Coat, Lay Lady Lay e I Want You, ele elege a última. Refrão que gruda como chiclete e sua melodia revestida com lantejoulas. O palco parece um pisca-pisca das luzes natalinas em abril. Puro brilho e contentamento. A ficha cai e eu meu amigo nos abraçamos. Em tom de completa comoção, meu camarada me diz “É o véio, alemão! É o Dylan ali no palco!”. Será? Bem de perto, parece ser ele mesmo, vestido em um terninho elegante ao estilo da Guerra da Secessão. Empolgados, mais um copo de cerveja circula em nossas mãos, já que estamos bem no fundo do bar, ao lado da copa. Posição estratégica com visão perfeita das quatro linhas. 
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Foto: Adriana Franciosi, Divulgação BD ZH - 7/4/1998
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O clima de pub deixa Bob Dylan à vontade, e ele até sorri naquela noite. Incrível. Algo raro pra quem o conhece dos vídeos e documentários. Depois saca do set Cold Irons Bound, um dos temas mais pesados de “Out of Mind”. Dylan rosna como um gato vadio encurralado num beco escuro.

Hipnótico. Positively 4th Steet nos joga de volta aos cáusticos e saudosos anos 60. Bucky Baxter fica o tempo todo de cabeça baixa concentrado em sua pedal steel guitar, mas às vezes também dá uma sacada de canto de olho na plateia e nos seus partners. A surpreendente Silvio, composta a quatro mãos com o letrista do Grateful Dead, Robert Hunter, é uma pérola esquecida do subestimado LP Down in The Groove (1988). Além de evocar os fantasmas dos Jordaineres, esse som deixa muita gente a ver navios. Elvis aprovaria os backings. “Que música é essa?”, ouço um sujeito com uma camiseta do Blood in The Tracks (1975) falar ao meu lado. Dylan até ensaia uma dancinha a lá Chuck Berry. Incrível. Bailinho da saudade rolando frouxo no boteco.*
Foto: Adriana Franciosi, Divulgação BD - 7/4/1998
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Volta e meia me vem à mente que aquele cara lá em cima no palco não passa de um "falsífis”. A sequência assinava o contrário, pois o Bob Dylan folk entra em ação. Nessa levada ele ainda é imbatível, imitado aos extremos, mas nunca igualado. E a trinca de ases é formada por White Dove, Don’t Think Twice (It's All Right) e Tangle Up in Blue (uma das minhas preferidas). Vestido num elegante terno azul marinho, que emoldura uma destoante camisa cor-de-vinho, Tony Garnier gira seu contra-baixo acústico como um pião na mão de um menino. No olhar de Dylan não vejo nenhum resquício de reprovação, pelo contrário, o chefe está se divertindo. Cá estou, contemplando a lenda como se fosse uma miragem prestes a desaparecer. Por que será que ele não toca gaita de boca? Decepcionante. É, talvez não fosse ele.
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Foto: Adriana Franciosi, Divulgação BD ZH - 7/4/1998
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Pequena pausa, a banda pluga tudo na tomada de novo, quando chega a hora de Stuck Inside a Mobile With The Memphis Blues Again. Lá vem o bando liderado pelo Orfeu elétrico do rock com uma música que levou quase 18 horas de estúdio para ser finalizada em Nashville, no ano de 1966. Em 1998 ela parece deliciosamente interminável.

“Trabalhadores ferroviários bebendo sangue como vinho”. Um letra gigante que não passa voando. Demora uma eternidade. Ainda bem. Combustível que movimenta o set até os trilhos de This Wheels of Fire, bola de fogo composta em parceria com o baixista Rick Danko em Woodstock. Lembro da versão do The Band em 'Big Pink'.

E logo chegamos à estrada apocalíptica de Highway 61 Revisited, que completa a profecia de um set com pouco ou quase nada de Greatest Hits. 

Atualizações

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Pequena pausa, em pouco mais de um minuto a banda volta à cena com uma versão inusitada de It Ain’t Me Baby. Demoro a reconhecê-la nesse nbvo e estranho andamento. Tenho a impressão que nossos olhos se cruzam. “Hey, Bob!”, grito em pensamento. Ele parece não ouvir e encara por alguns segundos uma garota bem frente ao palco. O sensacional órgão farfisa de Auggie Meyers que ouvimos na versão original de Love Sick é substituído pelo riff "furréco” da Fender de Bob, acordes que colocam a casa em estado de alerta. O fim dos tempos ou apenas o encerramento do espetáculo? Eis uma música que vende perigo e tensão. Dylan e seu guitarrista, Larry Campbell, dividem os solos e trocam olhares como se fossem comparsas preparando uma emboscada. É quando chegamos ao  rufar da caixa de bateria de Dave Kemper, que antecipa Rainy Day Women #12&35, uma exuberante cápsula de veneno feita sob medida para parques de diversões do rock and roll do século XX. O refrão diz: “Everybody must get stoned”. É claro que 1.700 pessoas estão empedradas pela mais poderosa das drogas: a música.*

23h25 min, Dylan sai do palco. O público pede bis e não arreda o pé. Antipaticamente ele não volta ao sal das luzes. Passados 10 minutos, o eterno mal humorado (que até sorriu) já deve estar no automóvel que o levou de volta ao décimo andar do Plaza San Raphael. Quem sabe no caminho até lá tenha contemplando o céu “pinkfloydiano” (muito boa essa Marcelo Ferla!) da capital gaúcha com a sensação de que aquela noite fora especial. Talvez não. Como certa vez disse Bono: “Ver e ouvir Bob Dylan é como falar sobre as Pirâmides. O que você faz? Dá um passo atrás e... Fica embasbacado”. Foi mais ou menos como me senti pós-espetáculo. Para o bem e para o mal, esse é o tipo de show que muda vidas em várias perspectivas.
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Poa City Lights. Foto: Arquivo pessoal
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Batemos em retirada do Opinião possuídos pela energia de 15 canções e o vislumbre de uma lenda, mas francamente - eu não queria ter saído de lá. Ainda sob o impacto da eletricidade que irradiou do palco, salto da carroça pilhado a girar pelas ruas de Porto Alegre.

18° graus marca o termômetro no relógio de uma avenida qualquer. Paramos em frente a um letreiro de neon vermelho que pisca e lambuza de rubro nossos rostos. Dominó está escrito na placa. Gustavo disse que acredita que chegamos ao lugar certo. Nada como "provar novos vinhos", segundo seu discurso de defesa. E o efeito dominó se dá quando percebo o naipe do lugar. Que fique claro, estou na posição de um cara sendo financiado por um amigo, nunca pisaria num lugar como esse, falo pela grana mesmo! Aqui vejo lindas mulheres. De cara, apaixono-me pela mais... Falante. Jade é seu nome (certamente um nome artístico, digamos assim). Igual àquele filme com a Linda Fiorentino. E pode ter certeza: aquela altura do campeonato, ela era a própria Linda Fiorentino.
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Divulgação Paramount Pictures
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E mais, ela me lembra alguém familiar, por mais que não identifique no seu rosto  nenhum traço de semelhança com alguma das mulheres que passaram pela minha vida até aqui. Ela tem longas pernas e um cabelo muito escuro. "Lay, lady, lay. Lay across my big brass bad". Isso, madame! Uma grande cama de estanho frouxa e barulhenta poderia ser legal a essa altura dos acontecimentos. Quem não precisa de doses de riso e contentamento de vez em quando?

A conversa flui, mas não de muito tempo para eu abrir a boca e dizer que ela estava falando com o cara errado, afinal, não tinha mais nenhum centavo no bolso! “Enquanto enquanto não pintar ninguém mais interessante, vamos seguir conversando. Sem problemas", sussurra-me. Música romântica brega ressoando pela boate. Eu já estou “caidásso” pela morena. Está muito claro, não irei para cama com a beldade, mas enfim, estamos totalmente a vontade um com o outro.

Até que entra no recinto um homem de capuz.*
Foto: divulgação Sony Pictures
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Dois seguranças estão ao lado desse personagem. O clima muda por completo, e com a luz baixa e a fumaça de cigarro o ar fica mais denso. Com uma piscadela de olhos e um roçar de mãos, Jade gentilmente pede licença, e deixa bem claro - eu dancei na jogada. Ela acena positivamente para o sujeito de capuz que está disponível. Alguém cochicha alguma coisa ao pé do ouvido do homem misterioso e aponta pra Jade. Não dá para ver o rosto dele, mas posso jurar: o cara de capuz é Bob Dylan!. Tenho certeza, é o velho. Como ele chegou até lá, e como nós estávamos coincidentemente no mesmo lugar, não tenho a mínima ideia. "Mundo pequeno" , penso estupefato.

Entretanto, fico ligado no rosto e nos gestos do cara. Mesmo assim, toda aquela penumbra não me permite ter certeza de nada. Inebriado por tudo o que acontece ao longo do dia, o fim do episódio não poderia ter sido mais decepcionante e previsível. Jade desaparece com o suposto Dylan, sabe-se lá pra onde. Pelo menos o número do telefone dela está anotado num pedaço de papel em meu bolso. Ou melhor: perdi! Toca uma música ridícula no exato momento. Não interessa. Na minha cabeça eu ouço Queen Jane Approximately. “And You’re sick of all this repetition / Won’t you come see me, Queen Jane (E você já se cansou de toda repetição / Você não vem (mais) me ver Rainha ‘Jade’?”. Na mais completa resignação, sorrio em silêncio. Certamente, ninguém irá acreditar em mim. Gustavo, possível testemunha, já havia desaparecido com outra mulher sabe-se lá para onde...

Veja vídeo de reportagem da extinta TV COM, únicas imagens captadas na noite do evento. Contém entrevistas com Moacyr Scliar, Vitor Ramil e Marcelo Nova. Quem assina é a repórter Luciana Kraemer com imagens do cinegrafista Eduardo Mendes. 




Decepcionado, saio porta afora da boate e espero meu companheiro no carro. O letreiro de neon me recepciona soltando chispas e, antes que aquele troço cause um incêndio ou caia em cima da cabeça de alguém, o spot felizmente se apaga. Meus pensamentos não. Imagens trôpegas giram como um carrossel em chamas dentro de mim. This wheel's onfire!. Bem mais tarde, fomos pro tal apê combinado. Praticamente não durmo nessa noite de sete pra oito de abril. Flashes espocam incessantemente. Ecos da apresentação e de daquela mulher projetam mil slides na memória. "I WANT YOU, I want you, I want you soooo baaaad!"

Apita o despertador. Levantamos cedo, tomamos um rápido café e caímos no trânsito confuso da capital. Buzinas, canos de descarga, semáforos e estrada. Antes de sair da cidade, compramos a Zero Hora em uma esquina. Assim posso ler a manchete do Segundo Caderno assinada por Renato Mendonça: “Bob Dylan aquece o coração dos fãs”. Engraçado, no texto ninguém fala de nenhuma escapada de Dylan pela noite de Porto Alegre. Mas afinal, quem acredita nos jornais?  E Dylan parece ter gostado daqui. Tanto que em 1991, o músico passeou pelo mercado público onde comeu uma salada de frutas com nata na Banca 40 sem que ninguém o reconhecesse, além de caminhar pelas ruas da capital. O jornalista e escritor Eduardo Bueno foi seu guia pela metrópole gaúcha. Na segunda passagem do homem, notícias posteriores disseram que o astro americano ficou mais dois dias no estado, e, inclusive supõe-se que ele até deu uma esticadinha pela serra gaúcha.
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Reprodução recorte ZH e Bizz
Sem dúvida a apresentação de Dylan no Bar Opinião será um divisor de águas para um cara como eu, um apaixonado pelo universo musical. Meu primeiro show internacional, tardiamente aos 27 anos...


De qualquer forma, Hey Bob! Eu te conheço há muito tempo, bem antes dessa noite de abril de 1998. Te vejo como um parente distante que foi embora pra fugir do tédio de uma vida sem emoção. Te reconheço como um antepassado que me empresta conselhos em forma de canções. Compreendo tuas contradições, e também concordo contigo - afinal, uma boa canção sempre faz a diferença. Ah, e pode relaxar! Eu juro que te perdoo por ter me roubado Rainha Jade. 
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E quanto ao Fim dos Tempos tô contigo e não abro – também acho que tá na hora do mundo se partir em mil pedaços! ainda não está escuro, mas o Bob profeta avisa, em breve vai escurecer.*




Não há registro em áudio da apresentação em 7 de abril de 1998. Não que saibamos disso. O amigo Cristiano Radtke é o responsável pela mágica no player abaixo. A gravação que disponibilizamos não se trata do show de Porto Alegre, mas de uma recriação do setlist que Dylan tocou nessa noite, compilada de alguns de seus shows em 1998, cujas gravações foram disponibilizadas pelo site "Expecting Rain", uma das mais fidedignas fontes de informação que há na internet sobre Bob Dylan. Em sua maioria, essas gravações são amadoras e foram feitas da plateia por fãs, o que explica as diferenças na qualidade de áudio de uma música para outra.

De qualquer forma, o material ilustra parte das ações daquela noite de 7 de abril. Assim, as pessoas que não estavam nesse show podem ter uma ideia de como foi, e as que estavam lá também podem relembrar essa noite histórica.  Satisfação garantida!


Confira o setlist - Bob Dylan - Porto Alegre, 7 de abril de 1998

To Be Alone With You
I Want You
Cold Irons Bound
4th Street
Silvio
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White Dove
Don't Think Twice, It's All Right
Tangle Up in Blue
.....................
Stuck Inside in Memphis with the Mobile Blues Again
This Wheel's on Fire
Highway 61 Revisited
.....................
Love Sick 
Rainy Day Women  

3 comentários:

  1. Maravilha! Márcio. Maravilha! História da música contemporânea sem crônicas, como essa sua, não passa de "estoriazinha". Meus parabéns! Até cheiro do bar pode-se sentir no ar. Maravilha!

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