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quarta-feira, 25 de março de 2015

JACK WHITE - PORTO ALEGRE, 24 DE MARÇO DE 2015

Fotos:site oficial JW



Sempre me perguntei que tipo de feitiço é invocado quando o nome JACK é chamado. Já perceberam que essas quatro letras produzem uma espécie de anagrama mágico? Longe de apenas cumprirem o protocolo, os ‘Jack’ são sujeitos aparentemente abençoados, ou amaldiçoados. Em tempo: deixemos de fora o mais temido deles — Jack, o Estripador. Vejo um talento visionário neles:  Jack Nicholson, Jack Kerouac, Jack Sparrow, Jack Daniel, Jack London, Jack Frost, Jack Fate, Jack Black, Jack Kirby, Jackie Coogan. Um desses indivíduos nos visitou recentemente, seu nome é Jack White e ele não precisa se esforçar muito para propagar a fama de Willie Wonka do rock. Assim como o lendário personagem criado pelo escritor galês Roald Dahl, Jack também mantém seu staff alinhado. Há várias comprovações disso, como, por exemplo: toda a equipe técnica que o acompanha está devidamente uniformizada, muitos ao estilo Amish ; duas garotas auxiliam na iluminação e na mesa de áudio, algo incomum no meio musical. Esse profissionalismo ao estilo “vamos nos divertir trabalhando” é algo que chama a atenção. Dentro da celeuma de vozes do rock do século XXI, apesar da estampa de cientista maluco, Jack talvez seja um dos mais lúcidos dos artistas que representam esse elo entre as raízes da música norte-americana e o espaço para onde o rock caminha daqui para frente. 

Site oficial JW
A carta de restrições Amish segue, pois, um mestre de cerimônias pede para que os celulares sejam desligados e alerta para que o público aprecie o show sem aparatos tecnológicos. Resolve. Só no final vi smartphones registrando algo. A luz azul predomina durante toda a paginação do espetáculo, fonte de imersão no universo cênico da montagem do homem que comanda a Third Man Records . Que fique claro: de uma apresentação para outra, o setlist de seus shows não segue uma lógica pré-determinada. Parece que a vibração de cada lugar determina a ordem (ou desordem) das coisas, pois existe um início e fim, mas, entre esse intervalo, muitas coisas podem acontecer. 

Assim, cada noite é especial. Única. A sequência inicial com “Dead Leaves and The Dirty Ground”, “High Ball Stepper”, “Hotel Yorba” e “Temporary Ground” indica que a cronologia de sua discografia pode flutuar de A a Z. As músicas de “Lazaretto” , álbum laureado com o Grammy, são impressionantes ao vivo. A formação da banda com a baterista Daru Jones (Esperanza Spalding) localizado à frente do palco, à direita, ao lado do baixista Dominic John Davis (Second Sight), cria um espaço diferente do convencional. O tecladista Dean Fertita (Queens of the Stone Age, The Dead Weather) é o substituto de Isaiah Owens, que, em outubro passado, encontrado morto da mesma forma que John Bonham (asfixia por vômito). Fertita parece acuado, um vampiro que foge da luz, ausente de protagonismos. Talvez seja proposital. No entanto, é lamentável perceber que muitas vezes o som do seu teclado não chega aos ouvidos do público. De todo modo, essa omissão é compensada nas participações da violinista Lillie Mae Rische, além do pedal steel de Fats Kaplin (John Prine, Beck), responsável também por outros instrumentos de corda. Lillie Mae ainda colabora com vocais de apoio e Fats emula a imagem de um pregador impondo a mão frente ao teremim . 

Foto: site oficial JW
O pop também é evocado, como no hit “Steady, As She Goes”, quando Jack nem precisa conclamar o público a participar. Sua música amadureceu, e a prova desse novo estágio é que as canções de seus álbuns solo já compõem praticamente metade do set. “Eu vejo o palco como um campo de batalha. A hiperatividade de Jack, o seu vai e vem, faz com que ele se enrole em todos os cabos possíveis. E claro, a guitarra desafina frente a tantas travessuras. Por isso todo aquele tempo de remontagem antes do bis, pois os roadies praticamente reconstroem o palco”, chama-nos a atenção o músico Adriano Zuli (Geringonça), um dos meus companheiros de viagem.

E assim, depois de um não tão breve intervalo, com o cenário remontado, Jack White volta novamente, entortando tudo em “I’m Slowly Turning Into You”, prossegue bagunçando as coisas em “That Black Bat Licorice” (uma das melhores de “Lazaretto”), estatelando o senso comum em “Sugar Never Tasted So Good”. A música do primeiro álbum do White Stripes representa um dos melhores momentos da noite, com Jack brincando individualmente com cada músico, numa jam  repleta de improvisos. Por conseguinte, quando um artista compõe um hino como “Seven Nation Army”, tema vocalizado por torcidas de times de futebol dos quatro cantos do mundo, é impossível imaginar outro epílogo. 

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Meia noite, vou embora com a sensação de ter assistido ao show de um artista que continuará relevante por muitos anos. É como ter presenciado uma apresentação do tour de “Infidels” de Bob Dylan. Digo isso porque em julho Jack completa apenas 40 anos, mesma idade de Bob quando lançou um dos seus bons discos dos anos 1980. Tenho certeza: Jack White ainda não nos entregou todas as facetas de sua personalidade artística. Assim o estranho (e interessante) mundo de Jack é revelado aos poucos e como seu homônimo Jack O'Lantern, ele certamente ainda irá nos enfeitiçar no futuro de nossos dias.

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Setlist JW POA

Dead Leaves and the Dirty Ground
High Ball Stepper
Lazaretto
Hotel Yorba
Temporary Ground
Weep Themselves to Sleep
Hello Operator
Top Yourself
Steady, As She Goes
Love Interruption
Little Bird
Would You Fight for My Love?
Sixteen Saltines
Astro
Broken Boy Soldier

Bis

I’m Slowly Turning Into You
That Black Bat Licorice
Sugar Never Tasted So Good

Seven Nation Army

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