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sábado, 22 de novembro de 2014

MISSISSIPPI DELTA BLUES FESTIVAL 2014 - 3ª NOITE, CAXIAS DO SUL, 22 DE NOVEMBRO

Casa cheia no último dia de MDBF. Fotos: Fabiano Knopp
Em alguns momentos parece uma terra dos sonhos, um território inimaginável para ser construído tão longe do berço do blues, e mesmo assim, com tamanha identidade e coerência. Carnaval em novembro, festa da firma (é o que dizem os colaboradores do evento), uma camaradagem invejável entre os músicos, sem nenhuma ocorrência policial registrada e um verdadeiro circo de atividades, atrações, expositores, espargindo nessa composição única em termos de festivais no país.

Saiba como foi a primeira e a segunda noite do MDBF

Confira uma breve retrospectiva em vídeo dos 3 dias de evento.



Essas são algumas das coisas que me vem à mente depois da última noite de festival, o maior evento de blues do país. O #MDBF surgiu como uma extensão das atividades do Mississipi Delta Blues Bar, o Missi, como se referem carinhosamente os caxienses quando falam de um dos bares mais conhecidos, isso não apenas na Serra, como também por todos os amantes do blues nos quatro cantos do país. O festival que acontece no Largo da Estação Férrea teve sua noite de maior público neste sábado (22).

Casé do blues

Pelo menos pra mim, o sábado começa com Luíza Casé, prima da apresentadora da Rede Globo, Regina Casé. Ela sobe ao palco feminino acompanhada de uma super banda formada por nomes como os guitarrista Otávio Rocha (Blues Etílicos) e Cristiano Crochemore, o baixista Cesar Lago, mais Beto Werther, ex-Big Allambik, na bateria. Além de cantar muito, Luiza parece ligada na tomada, hipnotizando a plateia com sua autoconfiança e senso de humor. “Um pouco de vitamina D não faz mal a ninguém”, diz a cantora usando a mão como viseira para se proteger do sol do final de tarde, batendo fortemente no Magnolia Stage.  Quanto ao repertório, versões endiabradas de “My Babe” (Little Walter), “I’d A Rather Go Blind (Etta James) e “You Belong To Me’ (Robert Cray ). Anotem esse nome: Luiza Casé, aposto minhas fichas nela. Artista nata, inteligente e talentosíssima.

South American Harp Attack no Main Stage. Foto: Fabiano Knopp
Os gaitistas, Bilbo e o Patrono

No palco principal do festival, tudo começa com South American Harp Attack, união de quatro gaitistas de peso do continente e um desfile de clássicos do gênero. No palco, Flávio Guimarães (RJ), Gonzalo Arraya (Chile), Nico Smojjan (Argentina) e Ale Ravanello (RS). Carta marcada: uma aula de harmônica para quem gosta do som de gaitas diatônicas (as gaitinhas de dez orifícios). Aquela altura do entardecer, o MDBF já recebe seu melhor público dos três dias. Logo mais todo o complexo estaria tomado.

Ainda no Main Stage, na sequência temos a presença folclórica do músico norte-americano Robert “Bilbo” Walker, que no dia anterior, fez um show inesquecível debaixo de chuva no Front Porch Stage. Leia a resenha AQUI

Robert Bilbo Walker. Foto: Fabiano Knopp
“Nunca vi tantas mulheres bonitas num show. E também nunca vi tantos homens feios”, brinca o músico explicitando sua maneira folclórica de dizer frases prontas que podem soar engraçadas em qualquer lugar do planeta. Bilbo faz um decalque do set da sexta-feira, e fico com a impressão de que num palco maior, parte da sua magia se dissipa. De todo o modo, ele me ganhou com seu jeito burlesco e caricato, uma síntese do espírito bem humorado e divertido do blues. O público o adora, tanto que antes do show, tirou uma série de fotos com vários novos fãs. Claro que no quesito celebridade ele perde longe para Bob Stroger, Patrono honorário do evento, disparado a figura mais amada e fotografada do festival.

Stoger no All Aboard Stage. Foto (cel): Márcio Grings
Apresentação do músico na noite de sábado no All Aboard Stage, estava com lotação máxima no espaço que compreende a antiga plataforma de embarque/desembarque da Estação Férrea. Se eu fizesse parte da comissão organizadora do MDBF, iria requisitar a entrega da chave da cidade para Stroger.

O sorriso dourado de Johnny Nicholas. Foto: Fabiano Knopp
Intimismo com Johnny Nicholas

Já no meu palco favorito, a ‘casinha’, o ex-Asleep At Wheel e Commander Cody, Johnny Nicholas, que fechou a noite de sexta-feira no Main Stage, faz um dos shows mais intimistas do MDBF 2014. Chama atenção sua abordagem sutil em tocar alguns clássicos do gênero, sem muito virtuosismo, tanto nas teclas quando na harmônica presa ao suporte. No entanto, sua voz soa elegante e autêntica, um diálogo perfeito com o vernáculo do piano blues. De chapéu, bigode de crupiê e uma boca que denuncia a presença de dentes encapados com ouro, o pianista destrincha o manual de como uma apresentação pode soar despretensiosa, na primeira metade, e simplesmente espetacular na segunda leva de sons. Assim como o show de Lazy Lester na quinta, outra aula de blues assistida bem de pertinho, com direito a improvisos, surpreendentes mudanças de andamento e um constante bate bola entre os músicos.

Rockfeller, Nicholas e Fishbone. Foto: Fabiano Knopp
Destaque para as participações dos guitarristas Solon Fishbone e Netto Rockfeller, além do gaitista Flávio Guimarães, este último, que na minha opinião faz sua melhor apresentação nos três dias de festival. Inesquecíveis versões do time para “Goin’ Back to New Orleans”, de Doctor John e “Key to the Highway”, de Charlie Segar.

Na plateia, bem na frente do palco, os guitarristas Danny Vincent e Larry McCray curtiam o show junto à pequena multidão.

Flor Horita. Foto: Fabiano Knopp
Flor

Voltando ao Magnolia Stage, a jovem cantora e guitarrista argentina Flor Horita, mostra suas versões para standards como “A Put Spell On You”, “Baby What Me Want Me To Do” e “Catfish Blues”. Infelizmente só pude conferir o início da apresentação, e com isso fiquei com a sensação de que havia muito mais a ser conferido. Motivo da minha partida? Não dava pra perder o segundo set da apresentação de Johnny Nicholas. Já falei isso em postagens anteriores, uma das tônicas do MDBF é que diversas atrações são simultâneas, e com isso, precisamos fazer nossas escolhas.


Jerry Portnoy. Foto: Fabiano Knopp
A elegância de Portnoy

Próxima atração: Jerry Portnoy no Main Stage. Expoente da lendária cena blues de Chicago, Portnoy é uma presença viva de uma das escolas mais tradicionais da música norte-americana. Olhar para o gaitista, a forma cuidadosa como passa o cabo do microfone pelo ombro, a postura imponente (apesar da baixa estatura), as bochechas infladas pelos movimentos de sua boca no instrumento, a voz grave, os timbres exatos daquilo que ouvimos dos velhos LPs de blues, enfim, tudo soa fidedigno. Como um guardião do legado mais precioso da música que o tornou um dos profissionais respeitadíssimos e requintados da harmônica, Portnoy homenageia nomes como Jimmy Reed, Big Walter Horton, Sonny Boy Williamson, entre outros.

Impagável vê-lo em ação utilizando todos os traquejos que muitas gaitistas tentam invariavelmente imitar, mas raramente conseguem.  E, além disso, Jerry Portnoy leva o troféu de músico mais elegante do festival. No show do MDBF, o gaitista esteve acompanhado do guitarrista Rick King Russell, músico que já foi sideman de nomes como David “Honey Boy” Edwards, John Lee Hooker, Eddie Clearwater, entre outros.

Miss Marshall bebendo todas no palco. Foto: Fabiano Knopp
Blues rock com Bex

Saio correndo do palco principal, pois Bex Marshall está prestes a começar os trabalhos no Front Porch Stage. Se a britânica fez uma apresentação morna na noite anterior no Magnolia Stage, a única mulher a pisar como atração principal da ‘casinha’ fez o show mais rock and roll da última noite. O blues estava lá, nas estrelinhas, afinal, essa é uma das características do som da cantora: – misturar tudo. De qualquer forma, potencializando ainda mais esse ingrediente, Bex parecia endiabrada no seu figurino roqueiro esfarrapado.

Bex. Foto: Fabiano Knopp
Quando logo no início do set a cantora revisita Janis Joplin em “Piece of My Heart”, a plateia que tomou de assalto o centro, imediações e laterais do palco, simplesmente explode como num concerto de rock.

Veja no LINK a foto postada no perfil oficial da artista no FB.

De pé descalços, com os peitos praticamente saltando da blusa, visivelmente sintonizada ao espírito de festa instaurado pela sua presença, Bex toca a faixa título de seu álbum de estreia de 2007 (Kitchen Table), e prioriza canções do seu último CD, “The House of Mercy”, lançado em 2013.

Larry McCray. Foto: Fabiano Knopp
McCray. Adeus MDBF 2014

Depois de receber doses cavalares de energia, mais gás no Main Stage que recebe Larry McCray, guitarrista norte-americano escalado para dar números finais ao festival. Foi sua terceira apresentação. Vi ele como sideman de Lazy Lester (na quinta), no Front Porch Stage (na sexta) e agora no palco principal, tenho a sensação de ter visto três apresentações completamente diferentes. Nesse último show, um recorte dos seus quase vinte e cinco anos de carreira discográfica, temas como ” Run”, “Never Run So Bad” e a balada arrasa quarteirão “Don’t Need No Woman”, além de canções sempre presentes em seu setlist, como “Born To Play The Blues”.

Entre as participações, destaque para a canja do gaitista Lazy Lester. O encerramento fica a cargo de “Soulshine” releitura do Allman Brothers Band, composição de Warren Haynes que parece ter sido composta sob medida para McCray. 2015 tem mais. Parabéns a Toyo, idealizador do festival, e nossas congratulações a toda comissão organizadora.

Veja mais fotos de Fabiano Knopp.

Foto: Fabiano Knopp


Foto: Fabiano Knopp


Foto: Fabiano Knopp


Foto: Fabiano Knopp


Foto: Fabiano Knopp


Foto: Fabiano Knopp


Foto: Fabiano Knopp


Foto: Fabiano Knopp


Foto: Fabiano Knopp


Foto: Fabiano Knopp


Foto: Fabiano Knopp

Foto: Fabiano Knopp

Foto: Fabiano Knopp

Foto: Fabiano Knopp

Foto: Fabiano Knopp

Foto: Fabiano Knopp

Foto: Fabiano Knopp

Foto: Fabiano Knopp

Foto: Fabiano Knopp

Foto: Fabiano Knopp

Foto: Fabiano Knopp

Foto: Fabiano Knopp

Foto: Fabiano Knopp

MISSISSIPPI DELTA BLUES FESTIVAL 2014 - 2ª NOITE, CAXIAS DO SUL, 21 DE NOVEMBRO

Foto de cartão postal POP no MDBF. Foto: Porthus Jr
A segunda noite da sétima edição do Mississippi Delta Blues Festival, que novamente é realizado no Largo da Estação Férrea, em Caxias do Sul (RS), teve vários componentes para torná-la um capítulo inesquecível na memória do publico que prestigiou outra série de apresentações. Um deles foi o mal tempo, que mesmo assim não afastou o público. Além dos shows, várias atividades paralelas movimentam o amplo espaço que toma conta do antigo complexo ferroviário local. Workshops, tour gastronômico musical, pocket shows solidários, leilão silencioso, várias opções de alimentação, e muitos eventos que nos fazem encher os olhos de satisfação.

Saiba como foi a primeira e a terceira noite do MDBF 

Blues, chuva e momentos inesquecíveis. Foto: Porthus Jr
Se na quinta-feira eu fiquei frustrado em perder algumas apresentações, essa sensação novamente me acompanhou na sexta. Que fique claro: é impossível ver tudo ao mesmo tempo. Comecemos pelo o que eu não vi. Fran Duarte abriu os trabalhos no Magnolia Stage, palco feminino do MDBF. Só ouvi de relance alguma coisa no All Aboard Stage, palco localizado na antiga plataforma de embarque e desembarque da Estação. No segundo dia tocaram por lá três bandas de Caxias. Guitarras, harmônicas e clássicos compondo a atmosfera. E a chuva que apenas envernizou de leve as ações no dia anterior, resolve se manifestar com toda força e requintes cenográficos (como vemos em algumas imagens desse post). Choveu muito durante várias das apresentações, o que de certa forma até contribuiu para que alguns recortes dos shows tivessem momentos que ficarão guardados na memória.

o Los Mind Lagunas com Flávio Guimarães. Foto (cel): Márcio Grings
México blues

A noite começa pra mim com Los Mind lagunas. O trio mexicano tocou boa parte do show debaixo de chuva, nada que tirasse a energia do baixista e vocalista Alfonso Robledo que utiliza o senso de humor para esquentar a primeira apresentação no palco principal. “Nós somos fracos, mas só temos convidados de peso hoje”. Entre eles, Flávio Guimarães (Blues Etílicos), gaitista carioca que acompanhou o trio mexicano em uma meia dúzia de temas. Destaque para a releitura em espanhol de “T-Bone Shuffle”, de T-Bone Walker. Outro convidado, esse vindo direto de BH, Gustavo Andrade, promoveu o “cruzamento do pão de queijo com a pimenta”, como disse Robledo, antes do guitarrista mineiro cantar e tocar canções como “Man of Many Words”, de Buddy Guy e “Little By Little”, de B.B. King.

Álamo Leal. Foto (cel): Márcio Grings
Diversão no Front Porch

Também pude conferir um workshop de Álamo leal, músico carioca que entre uma canção e outra, destrincava suas histórias do tempo em que morou na Inglaterra. 

Chegando ao meu palco preferido, o Front Porch Stage, ou ‘casinha’, como é carinhosamente chamada por todos, eis que vejo a figuraça Robert ‘Bilbo’ Walker afinando sua guitarra. Bilbo nasceu no Mississipi, passou por Chicago, morou na Califórnia e atualmente vive em Clarksdale, no Mississippi. O ex-plantador de melancias é disparado um dos músicos mais divertidos que já vi tocar. 


Roberto “Bilbo” Jr. Foto: Porthus Jr
Tanto pela forma cênica de comportamento no palco, quanto pelo repertório. O lance é que esse norte-americano de 77 anos, inevitavelmente rememora a lembrança de Chuck Berry. As dancinhas, o sorriso engraçado que denuncia a falta de dois ou três dentes na boca, o terno elegantemente desbotado, o cabelo encaracolado que parece uma peruca, a guitarra Fender assinada com letra borrada, fazem desse bluesman caricato, uma espécie de humorista que poderia virar personagem dos Simpsons.

Pra completar o quadro, fico grudado ao palco me protegendo da chuva – que depois de uma breve trégua, resolve novamente desabar sobre nossas cabeças. Mesmo assim, o público não arredava pé. Até que, para surpresa de muitos, Bilbo Resolve passear com sua guitarra pela frente do palco. E assim, sem medo de ser eletrocutado, o guitarrista comandou as ações em meio o quintal encharcado do Front Porch Stage. Entre dois ou três temas do repertório de Chuck Berry e standards do gênero, ao lado dos Jerry Roll Boys, ele também lasca uma versão esquizofrênica de “Got My Mojo Working”, além de abrir a caixa de ferramentas e apresentar músicas de seus três álbuns. Temas como “Sold my Soul”, “Why I sing the Blues”, “Something on Your Mind” e “Shake for Me”, denotam uma identidade musical com forte influência berryana. Segundo um amigo guitarrista, Bilbo tocou todo o show com a sexta corda desafinada. Maravilha! Por isso eu adoro o blues.

Guit4ar For Blues. Foto: João Rafael Bortoluzzi
Guitarristas e Bex

Ainda sob o impacto da chapoletada de diversão, e agora sem chuva, caminho em direção ao Main Stage e percebo que o show do projeto Guit4ar For Blues, time formado pelos guitarristas Danny Vincent (Argentina), Netto Rockfeller (SP), Solon Fishbone (RS) e Fernando Noronha (RS), já está fumegando a mil. No intervalo entre uma música e outra, Noronha dedica uma canção ao musico porto-alegrense Luciano Leindecker, que faleceu nesta sexta-feira na capital. Vaya com Diós.

Bex Marshall curtindo o festival. Foto: João Rafael Bortoluzzi






















































Dá pra perceber que o público em volta do palco principal ganhou mais cabeças que a noite anterior. Depois de conferir a versão do quarteto guitarrístico para “I Just Want To Make Love To You”, parto para o Magnolia Stage para dar um bico no show de Bex Marshall. A cantora britânica, que já estava na cidade desde o dia anterior, postou várias fotos nas redes sociais e pôde ser vista circulando livremente pelo MDBF. Fiquei próximo dela na apresentação de Bob Stroger, e deu pra perceber que Bex curtia a noite como qualquer um de nós por ali. Essa é uma das características dessa turma ligada ao blues: muitos deles não tem frescura nenhuma.

Lurrie Bell. Foto: Porthus Jr
Quanto ao show, Bex tocou vários sons dos seus dois álbuns, Kitchen Table” e o elogiado “The House of Mercy” (2012), além de deixar bem claro que não há problema algum em explicitar uma de suas principais referências: baita releitura de “Piece of My Heart”, um dos grandes sucessos de Janis Joplin. A ganhadora do prêmio de Melhor Cantora do Britsch Award, não tem medo de misturar rock, ragtime e blues. Confesso que o show não me impactou da maneira que esperava. De todo modo, Bex toca neste sábado na casinha, única mulher que passará pelo palco mais querido do MDBF.

Larry McCray. Foto: Porthus Jr
Chicago blues e McCray

Ver ao vivo um cara como Lurrie Bell não deixa de ser algo inacreditável. Tenho há anos um LP que o guitarrista gravou ao lado ao lado do seu pai, “Song of Gun” (1984), e nunca imaginei que o veria bem de perto. Filho do lendário gaitista Carey Bell, que foi um dos sidemen de Muddy Waters, Lurrie já prestou seus serviços para gigantes do gênero como Willie Dixon e Koko Taylor. Chicago blues na veia.

Voltando ao Front Porch Stage, Larry McCray, mostra por que é um dos nomes mais respeitados do nosso tempo. O músico é um devotado amante da famosa ‘tríade King’ do blues: Albert, Freddie e B.B. King, e dá pra dizer sem medo que esse legado permanece vivo no som do músico nascido no Arkansas. Além de arrebentar com sua Gibson, Larry não é adepto de obviedades no seu setlist. Poucos standards e muitas canções de seus oito álbuns. Antes da apresentação, tive meu momento ‘fã’ do MDBF.

Guitar man, Larry McCray. Foto: Porthus Jr
O guitarrista estava passeando de boa com seu baixista, quando ao vê-lo, pergunto se poderia tirar uma foto com ele. Ele abriu um sorriso. Falei sobre a noite anterior quando o vi tocando ao lado de Lazy Lester. Então disse que foi divertido vê-lo duelando com Lester. Rindo, Larry afirmou que foi dureza, afinal não tocava com Lester há mais de 10 anos. Pra completar o pacote, compro um CD e pego o autógrafo do homem.

Jai Malano. Foto: Porthus Jr
Um dos melhores shows

Encerrarrando minha noite no festival, Jai Malano brilha no palco Magnolia. A cantora texana se apresentou ao lado da Igor Prado Band. Como algumas de suas influências, na revista do festival são citados os nomes de Etta James, Lavern Baker e Ruth Brown. Eu diria mais: além de sua voz nos remeter a várias divas da música negra, a performance, a voz e a maneira como ela parece se divertir no palco nos contagia. Acho que Jai tem todas as credenciais para se tornar uma das bolas da vez da música negra internacional. Impossível não falar da banda que acompanhou a cantora no Brasil, a Igor Prado Band, talentosa rapaziada de São Caetano do Sul, que além de dar todo o suporte artístico, colocou todo o público pra dançar durante uma das apresentações mais empolgantes do festival.

Igor Prado e Jai Malano. Foto: Porthus Jr


Não deu tempo de ver Johnny Nicholas. Sem erro nos vemos neste sábado, na última noite de festival. Hora de rever Bex Marshall, Robert ‘Bilbo’ Walker e Larry McCray, além de shows inéditos de Jerry Portnoy, Flor Horita, entre mais bandas e artistas. Nos vemos por lá.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

MISSISSIPPI DELTA BLUES FESTIVAL 2014 - 1ª NOITE, CAXIAS DO SUL, 20 DE NOVEMBRO

Um dos melhores momentos da noite de quinta-feira: Larry McCray e Lazy Lester. Fotos: Fabiano Knopp
A sétima edição do Mississippi Delta Blues Festival começou nesta quinta-feira (20) no Largo da Estação Férrea, em Caxias do Sul (RS). Em minha primeira vez no MDBF, as impressões são as melhores possíveis. Todos os espaços e eventos são tratados com extrema coerência e organização. Nunca fui em nenhum festival de blues nos Estados Unidos, mas a sensação é que não estamos numa cidade brasileira, mas sim num novo país chamado Bluesland. Além dos shows, várias atividades paralelas movimentam o amplo espaço que toma conta do antigo complexo ferroviário local. Workshops, tour gastronômico musical, pocket shows solidários, leilão silencioso, várias opções de alimentação que nos fazem concluir que estamos num verdadeiro parque de diversões para amantes dos amantes da música.


Saiba como foi a segunda e a terceira noite do MDBF

Chegando no festival:

Um dos recortes bonitos do início do MDBF. O dueto entre Fran Duarte e Bob Stroger. Foto: Fabiano Knopp
Em primeiro lugar, num festival aonde tudo acontece em seis palcos, – muitas vezes (quase ou) simultaneamente – não dá pra mosquear, ou você deixa de ver algo que irá se arrepender amargamente por ter passado batido. Durante o final da tarde, caiu um toró em Caxias! A precipitação que começou a despencar logo depois das 17h, encorpou o caldo até próximo das 18h, emprestando ares dramáticos ao entardecer. Chegamos ao complexo da Estação Férrea mais ou menos nessa hora, eu e o fotógrafo Fabiano Knopp. 

Marina Garcia. Foto: Fabiano Knopp
18h50min, a chuva ainda afastava o público da proximidade do Magnolia Stage, palco onde passam as atrações femininas do evento. Enquanto isso, a porto-alegrense Marina Garcia ia aquecendo a garganta e os primeiros visitantes do MDBF 2014.

No repertório, standards como “You Got Me Running”, “Tulsa Time” e “Sweet Home Chicago”. Ao lado da cantora, uma boa banda que segura forte o inteligente repertório que se mostra confiante na voz firme de Marina que parece ter afastado a chuva com suas músicas.

Álamo Leal. Foto: Fabiano Knopp
Enquanto isso no All Aboard Stage, a rapaziada da Pacífica 22, abre um dos palcos com mais cara de blues, enraizado na centenária plataforma de desembarque da Estação Férrea de Caxias. Numa cruzada rápida, vejo uns três sons de Álamo Leal, músico carioca que morou por décadas na Inglaterra. Na inauguração do Folk Stage, ouço uma honesta versão voz e violão de “How Long”, de Leroy Carr. “O mais autêntico bluesman do país”, afirma o músico e jornalista Tomás Seidl, integrante da comissão organizadora do evento.

A casinha. Foto: Fabiano Knopp
O patrono do festival:

No Main Stage, após uma irreverente e curta solenidade de abertura de Rafa Gubert (pô, mas o festival já não tinha começado?!), a atração local Fran Duets inicia os trabalhos no palco principal do evento. Fran Duarte têm todas as manhas, traquejos e dinâmicas que fazem dela uma grande cantora. Destaque para o dueto com Bob Stroger em “Sweet So Sweet”, onde o veterano nos dá uma avant-première do que está prestes acontecer.


Bob Stroger. Foto: Fabiano Knopp
E eis que o Front Porch Stage fumega suas luzes. A “casinha”, como é carinhosamente chamada por todos, reprisa a atmosfera dos lendários casebres do Mississippi nos meados da primeira metade do século XX, e é disparado meu palco favorito. E da varanda do casebre, a espécie de Patrono vitalício do MDBF, o baixista e cantor Bob Stroger, que toca pela quarta vez no festival, nos avisa de cara: “Welcome to my house. This is my house”. Olhar para Stroger, e visualizar um arquétipo do gênero. Vestido de forma impecável com sua camisa bordô, colete preto, broches e penduricalhos dourados no peito.

A guitarra de Caetano, porém não o filho de Dona Canô. Sou mais esse cara. Foto: Fabiano Knopp
Completa o visual, seu chapéu, brinco, pulseira e anéis, botas de caubói, enfim, – uma beca impecável que dá peso e uma elegância invejável a sua figura. E eis que chegamos ao ponto mais importante: a performance no baixo atesta por que o veterano levou pra sua estante o Blues Music Award, como melhor baixista de 2013. Olhar para o músico norte-americano (e ouvir seu instrumento) é uma prova de como um baixo deve soar no blues. Destaque para a banda que acompanha Stroger, os incríveis The Head Cutters, rapaziada de Itajaí, Santa Catarina, que recentemente voltou de uma trip nos Estados Unidos. Poucas bandas brasileiras podem soar tão autênticas.

A ex-participante do The Voice Brasil, Dani Montuori. Foto: Fabiano Knopp

Pausa na casinha, enquanto Stroger recebe os fãs e autografa CDs, faço um lanche rápido e dou mais uma girada pelo complexo do festival. No Main Stage, ouço de longe a Lucille Band. Percebo que algo acontece no Magnolia Stage. Lá está o nosso fotógrafo. Knopp registra o show da cantora paulista Dani Montuori (ex-participante do The Voice Brasil) que embala releituras de Koko Taylor, Al Green, Muddy Waters, entre outros.

Ainda Stroger:

De volta ao meu local preferido da noite, Stroger segue o bailinho com músicas como “Key to The Highway”e  “Let The Good Times Roll”. Nesse momento o show ganha a participação de Décio Caetano. Um pena que o instrumento do músico paranaense estivesse com o volume um pouco baixo, mas nada que nos impedisse de ouvir o som de um dos melhores guitarristas de blues do país. Essa sensação que estou frente a frente com uma gema autêntica do gênero, no caso essa figuraça chamada Bob Stroger, havia acontecido pela última vez dois anos antes, no show de Buddy Guy, no Bourbon Country, em Porto Alegre. Stroger é um perfeito anfitrião. Conversa muito entre as músicas, passeia pela frente do palco, joga seu charme no público feminino, dança e enfeitiça sua audiência, nunca deixando de nos lembrar em diversos momentos do show: “This is my house!”.

Greg Wilson, Blues Etílicos. Foto: Fabiano Knopp
Blues Etílicos:

Bob encerra sua apresentação e já ouço o anúncio de que o Blues Etílicos está ok no Main Stage. No setlist, prioridade nos temas em português: ‘Puro Malte”, “Cerveja” e “H2O”, música do projeto paralelo de Greg, o Macabu. Lindo ver ao vivo canções como “Espelho Cristalino” (versão de um sucesso de Alceu Valença), um dos destaques do último disco da banda lançado em 2013.

Bedran, Wilson, Strasser e Guimarâes. Foto: Fabiano Knopp
Essa foi a quarta vez que assisti a banda carioca, quinteto pioneiro do blues no país, e talvez tenha sido a que menos me emocionou. A sensação é que o som ao vivo do grupo está mais pesado, mais próximo do rock (não que isso seja algo negativo). Senti falta de ouvir canções como “Misty Mountain”. De todo o modo, sempre bacana sacar de perto a dobradinha das guitarras de Otávio Rocha e de Greg Wilson, além do inegável talento do gaitista Flávio Guimarães.

Nada de setlist com Lazy Lester. Foto: Fabiano Knopp
Voltando pra a casinha, de cruzada pelo All Abord Stage pego alguns minutos de Rola Stones, banda que reprisa há vintes anos o repertório dos Rolling Stones. Chegando no Front Porch Stage, Lazy Lester já está no palco pronto para sua primeira apresentação no MDBF. E eis que ao seu lado vejo o guitarrista Larry McCray. Esse é um dos lances bacanas do festival, como muitos dos artistas já estão na cidade, o que impede deles darem canjas nas apresentações um do outro? McCray toca neste sábado (21), mesmo palco aonde aparece de surpresa. Não resisto e faço uma foto com meu celular. Bem próximo a eles, dá pra perceber que McCray quer saber de Lester qual será o repertório. O gaitista parece completamente despreocupado com isso, e dá a tônica da apresentação: o improviso.

Um dos gigantes da guitarra blues, Larry McCray. Foto: Fabiano Knopp
Pobre do trio que os acompanha. E o mais interessante no show de Lester é que o veterano do blues visivelmente trabalha sem setlist mesmo! Ele conversa, brinca e sorri o tempo todo, e assim vai trocando figurinhas com McCray e mandando ver em temas como "Sugar Coated", “Big Boss Man” “That’s All Right” e até surpreende ao tocar canções mais vinculadas ao country, como “Blue Eyes Crying in The Rain”, de Willie Nelson. Quando a banda erra o andamento, ele não exita: “Stop, stop stop”. Só então eles recomeçam seguindo a receita proposta pelo chefe das ações naquela noite. O velho Lazy também mostra seu estilo simplista e descomplicado de tocar guitarra, arrancando sorrisos de McCray. Foi uma das melhores aulas de blues que assisti. Espero que repitam a dobradinha na apresentação de McCray.

Lazy Lester e sua harmônica. Foto: Fabiano Knopp
Fim de noite, pelo menos pra mim:

E eis que depois de uma longa maratona de quase oito horas, tiro o time de campo ao som das Clusters Sister, atração final da noite de quinta no Magnolia Stage.  Não consegui assistir Nei Van Sória no Main Stage e outros tantos em mais dois palcos que mal dei uma conferida. Esse é um dos lances frustrantes do MDBF: é impossível ver tudo. Nesta sexta-feira, 21 de novembro, noite de ver a britânica Bex Marshall (que deu show de figurino a lá Ma Rainney passeando e dando entrevistas), Jai Mailano, Robert Bilbo Walker, Larry McCray, entre outros. 



Os copos do MDBF. Foto: Fabiano Knopp



Destaque negativo:

Como fui credenciado pela imprensa, acabei não levando o copo do festival. Ao tentar adquirir o meu exemplar, fui jogado de um lugar ao outro sem sucesso. Uma cadeia de desinformação que acabou me aborrecendo (atenção comissão organizadora do MDBD 2014. Provavelmente mais pessoas estejam em busca dos copos, que novamente ficaram muito bonitos). Acabei ganhando de presente um copo do Blues Etílicos. Obrigado pela cortesia, Flávia Vidor (UCS FM). Mas que fique claro: – esse é um só um ínfimo chororô de uma noite estupenda, que não macula em nada a excelente organização de um dos maiores festivais de blues do continente.

Todos querem fazer seu registro no MDBF


Um excelente público prestigiou a primeira noite de festival.


Front Porch Stage.


Vários ambientes compõem o complexo do festival.


Essa é pra quem curte o universo do skate.


Ao fundo Bob Stroger, o a patrono do MDBF.


Wilsom, o mais carioca dos americanos.

Main Stage.

Otávio Rocha, Blues Etílicos.

Bluesland, um parque de diversões que tem até roda-gigante.

Lazy Lester, mestre no improviso.

Larry McCray e Lazy Lester muito próximos do público.

Feeling the blues.

A guitarra tem um dono.

A talentosa cantora porto-alegrense Marina Garcia.

Dani Montuori. De São José dos Campos, SP, para o palco do MDBF, em Caxias.


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