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sexta-feira, 17 de novembro de 2023

RED HOT CHILI PEPPERS — PORTO ALEGRE, 16 DE NOVEMBRO DE 2023

| Fotos: Ton Müller |
| Por Márcio Grings Fotos: Ton Müller |

Antes de qualquer coisa, falando na primeira pessoa do singular, preciso dizer ao leitor: eu não sou fã do Red Hot Chili Peppers. A música do grupo norte-americano nunca orbitou na constelação musical ao qual faço parte como ouvinte. Claro, estou falando do meu toca-discos, da minha prateleira, daquilo que eu escolho ouvir nos meus domínios. Será? Todavia, é óbvio que como radialista — e ligado na programação das rádios — muitas vezes tive alguma canção do RHCP visitando meus dias, seja no trabalho ou como mero ouvinte. A exemplo disso, a década de 1990 foi um espaço de tempo em que Anthony Kiedis (voz), John Frusciante (guitarra e voz), Flea (baixo) e Chad Smith (bateria) tomaram de assalto o mundo e, canções como “Under the Bridge” e “Give It Away” de “Blood Sugar Sex Magik” (1991) foram incrustadas no nosso inconsciente. Entretanto, a banda não fixou sua âncora num marco temporal, ela seguiu adiante, sincrônica e relevante na música pop do nosso tempo. E, mesmo sem ser um devoto da música dos californianos, há um detalhe que me aproxima deles: minha esposa é fã do Red Hot Chili Peppers, com isso, durante as idas e vindas cotidianas, frequentemente seus discos rodam no CD player do carro. Tudo certo, sem levar em conta minhas preferências, trata-se de boa música.

Foto: Ton Müller

50 mil foram até a Arena do Grêmio para ver o último show da turnê brasileira, a segunda vez do grupo em Porto Alegre. Como o próprio nome da turnê nos sugere — a Global Stadium Tour — encontra nas multidões o seu púlpito e glória. Por outro lado, em vários momentos temos a sensação de que os músicos estão se apresentando num espaço reduzido, pois o palco (que é enorme, seguindo o protocolo dos shows em arenas) muitas vezes não é ocupado da forma que vemos em outros shows. E, na contramão do pop, o que poderia soar como anticlímax para os fãs radiofônicos ou quem sabe entediá-los pelos excessos e arroubos instrumentais, esse desenho roga uma das boas sacadas da montagem atual. Na redução dos espaços é proposto um show mais intimista — e, com isso, conseguimos enquadrá-los no telão e no nosso campo de visão centralizados em frente à bateria. Reconhecidos como virtuoses de seus instrumentos, é inegável perceber a interação olho no olho e o ambiente fértil para improvisos. Em dado momento, só o protocolar Anthony Kiedis parece ausente dessa festa, encontrando nas laterais do palco um respiro para as passagens instrumentais. Aos 61 anos, o vocalista está em ótima forma e vê-lo ao vivo amplia os adjetivos e confirma suas limitações em interagir com a plateia. Lembro que talvez seja pelo uso de uma bota ortopédica na perna esquerda. Talvez... 

Foto: Ton Müller
A cozinha do RHCP, que sempre esteve na gerência de Chad (62) e Flea (61) impressiona pelo entrosamento e zoação no palco, com luzes de sobra no baixista, um dos mestres no seu instrumento. Ao decorrer da noite, temas como “Can’t Stop” e “By the Way” são um convite para o ulular da massa, assim como “Scar Tissue” (vejo lágrimas em olhos próximos), “Snow (Hey Oh), “Soul to Squeeze”, “Strip My Mind” e “Californication” ganham o coro de milhares. Ouvir releituras infiltradas como “The Guns of Brixton”, do Clash, antes de “Eddie” ou “Havanna Afair", dos Ramones, até pode surpreender os desavisados, assim como ”What is Soul”, do Funkadelic, se transforma sem atalhos numa música do Red Hot. O setlist não é previsível, Lados B e surpresas podem aparecer. É o caso “Terrapine”, de Syd Barrett (Pink Floyd), na voz de John Frusciante, o que me arranca um breve sorriso. Hoje aos 53 anos, o guitarrista que voltou a ocupar seu posto em 2019, é um dos destaques do show, consequência de sua extensa paleta de cores como instrumentista, além da capacidade de produzir ótimas camadas vocais de apoio.

Foto: Ton Müller

Os fãs mais devotados festejaram a inclusão de "Me and My Friends" no show de Porto Alegre, apresentação que foi a mais longa e com mais músicas (21) da perna brasileira da Global Stadium Tour. Antes do bis, um dos públicos mais rumorosos deste ano na capital gaúcha em shows do gênero implora pela volta dos músicos ao palco. Eles retornam e se despedem com uma tríade de canções de “Blood Sugar Sex Magik” — o funk rock “Sir Psyco Sexy”, a divertida releitura de “They’re Red Hot”, de Robert Johnson, e o inevitável epílogo com “Give It Way” — afinal, toda a boa banda precisa de uma  "Satisfaction" como às na manga, e o RHCP a utiliza como cartada final —, o que obviamente nos joga na lembrança do videoclipe na MTV e da ascensão do grupo ao estrelato, lugar de onde merecidamente nunca mais saíram. 

De Porto Alegre, o Red Hot Chili Peppers parte para Santiago, no Chile, onde se apresenta na belíssima Movistar Arena.

Agradecimentos a Ton Müller (fotos) e Ana Bittencourt (minha consultora sobre o setlist do RHCP em Porto Alegre). 

Foto: Ton Müller

RHCP | Arena do Grêmio, 16 de novembro de 2023

Jam

Can’t Sop

Scar Tissue

Here Ever After

Snow ((Hey Oh))

Terrapin

Havana Affair

The Guns of Brixton\ EddieParallel Universe

Soul to Squeeze

Me & My Friends

Strip My Mind

Get Up and Jump\ Tippa My Tongue

Tell Me Baby

Californication

What Is Soul?

Black Summer

By the Way


Bis

Sir Psycho Sexy

They're Red Hot

Give It Away

Ao postar o setlist da apresentação, despedindo-se da série brasileira da turnê, dessa vez o grupo homenageou Rita Lee e Ieda Maria Vargas, a eterna Miss Universo gaúcha.

 



Foto: Ton Müller


Foto: Ton Mülle

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