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terça-feira, 30 de outubro de 2012

ROBERT PLANT - PORTO ALEGRE, 29 DE OUTUBRO DE 2012

Fotos: Fábio Codevilla
Texto Márcio Grings Fotos: Fábio Codevilla

Muitos dos que foram até o Gigantinho na noite dessa segunda-feira não sabiam. No entanto, grande parte de todos nós, certamente estava em busca de algum tipo de elo perdido. Afinal, o rock de ontem e a sombra de áureos tempos ainda sobrevive em nossas memórias e toca-discos. Esse jogo entre passado, presente e futuro, é algo que inevitavelmente permeia a imagem de um dos cantores mais importantes da história do rock, e indubitavelmente paira como assombração sobre o artista que foi, e aquele ao qual hoje vemos  no palco do Gigantinho.     

Às 21h35min, Plant dá início à noite gaúcha do atual tour pelo Brasil. Aos 64 anos, o vocalista inglês está à frente do The Sensational Space Shiffters, time de músicos formado por Justin Adams — guitarra, bendir e vocais; Billy Fuller — guitarra e vocais; John Baggott — teclados;Liam “Skin” Tyson — guitarra e vocais e Dave Smith — bateria e percussão, com destaque para o músico gambiano Juldeh Camara — ritti (violino africano de apenas uma corda) e kologo (espécie de banjo africano). 

Foto: Fábio Codevilla

“O espetáculo transita entre o som do Led Zeppelin, com permanente aditivos do folk, blues e elementos sonoros globais com vincos na África e no Oriente Médio. As nuances exóticas propostas pelos músicos, sempre muito claras (e realçadas pela nitidez acústica do som que ouvimos do palco), ajudam a dar leveza e groove ao espetáculo. Os instrumentos e a performance de Juldeh remetem não apenas ao afro-oriente, mas também ao repente nordestino”, nos diz em seu blog o jornalista Danilo Fantinel, num breve resumo das ações.   



E digo mais: músicos como Peter Gabriel, David Byrne, Sting e tantos outros são notórios por pisarem nesse território de diversidade e globalidade musical — algumas vezes eles acertam o alvo, outras tantas, não. Sem soar pretensioso ou ineditista, Plant parece ter encontrado a medida certa em um caminho semelhante de imersão e experiência. Tanto que em dado momento um clássico do Led  Zeppelin pode ser desconstruído e desfigurado — é o caso da versão de “Black Dog”. Já “Ramble On”, “Friends”, “Four Sticks” e “Going To California” deixam os fãs em êxtase, principalmente pelo fidedigno espelhamento nas originais, mesmo sem abandonar a roupagem acústica. E mesmo quando não revisita os clássicos de sua banda, há momentos em que o Led ressurge reencarnada na apresentação — mesmo que o solista não esteja com uma Les Paul em bandoleira, mas uilizando instrumentos como ritti e kologo. Também se faz necessária a conexão com "No Quarter", álbum lançado em parceria com Jimmy Page, ainda na primeira metade dos anos 1990, e que também rendeu um tour mundial. Robert Plant não abandou os orientalismos, uma antiga influência também  responsável pelas credencias de "Kashmir", um dos principais tema de "Physical Graffiti" (1975). 

Foto: Fábio Codevilla
No entanto, o blues ainda é uma força motriz na vida de Plant. É a sensação que tive quando ouvi “Funny in my mind (I believe I’m fixing to die)”, tema do bluesman Bukka White, que figura lado a lado como diversas poderosas releituras que Page/Plant produziram como dupla. Há instantes em que essa reencarnação se materializa na postura do cantor frente à banda, nos malabarismos com o pedestal de microfone, pela expressão do rosto enrugado ou pela ostensiva juba de leão, mas principalmente pela voz sintonizada à música negra. Impossível não lembrarmos do Led Zeppelin de filmes como "The Song Remais the Same" (1976). Plant ainda é um exuberante performer e, alinhado as acertadas escolhas de repertório, a potência vocal que a cada dia lentamente parece descer um degrau na sua escala particular, por outro lado, ascende outro estágio em elegância e inteligência na forma que emite o seu canto, e ainda transparecendo um exuberante vocalista.  



“Mighty Rearranger”, álbum lançado pelo artista em 2005, é o trabalho solo que mais fornece lenha para o atual repertório (são cinco temas), capturando uma intenção sonora que fornece a chave da atual "sonoridade Plant”. É interessante ver um dos gigantes do rock mundial, homem acostumado aos tours e com milhares de shows nas costas, encerrando a turnê pelo Brasil com visível semblante de contentamento. Em diversos momentos do espetáculo, Robert Plant busca interação com a banda e se energiza com o caloroso público gaúcho. O Gigantinho lotado (cerca de 10 mil pessoas), faz coro no “parabéns a você” em português para um amigo de Plant, membro de seu entouràge homenageado na apresentação. 

Foto: Fábio Codevilla
Se você é um daqueles que torcem o nariz com a fase atual do vocalista e ainda sonha com a volta do Led Zeppelin, tenho uma receita pra virar essa página — nesta terça-feira (29) acontece a primeira sessão de “Celebration Day”, filme/concerto do LZ registrado em 2007, no O2 Arena. Corra até o Cinemark do Barra Shoppping Sul, ainda há ingressos à venda. Serão apenas duas sessões em solo gaúcho. E que Robert siga seu caminho... 

De toda forma, podemos afirmar que Porto Alegre nunca teve uma semana mais Zeppeliana.

Confira o setlist:


01 Tim Pan Valley (Mighty Rearranger) – 2005
02 Another Tribe (Mighty Rearranger) – 2005
03 Friends (Led Zeppelin III) – 1970
04 Spoonful – releitura de Willie Dixon
05 Somebody Knocking (Mighty Rearranger) – 2005
06 Black Dog – (Led Zeppelin IV) – 1970
07 All The King Horses (Mighty Rearranger) – 2005
08 Bron-y-aur Stomp (Led Zeppelin III) – 1970
09 The Enchanter (Mighty Rearranger) – 2005
10 Four Sticks (Led Zeppelin IV) – 1971
11 Ramble On (Led Zeppelin II) – 1969
12 Fixing To Die –releitura de Bukka White (Dreamland) – 2005
13 Whole Lotta Love + medley com Who Do You Love, Steal Away e Bury My Body – (Led Zeppelin II) – 1969

Bis

14 Going To California (Led Zeppelin IV) – 1971
15 Rock and Roll (Led Zeppelin IV) – 1971

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